Crítica: “O Menino e a Garça”

Embora tenha inúmeras indicações anteriores de pessoas conhecidas – e ciente de sua importância para a indústria da animação – nunca cheguei a assistir, por completo, a nenhuma obra do Studio Ghibli.

O que significa que fui à Cabine de Imprensa de “O Menino e a Garça” (Kimitachi wa dô ikiru ka / The Boy and the Heron) imaginando que veria algo de extrema qualidade, porém, sem o apego emocional desenvolvido pelos fãs dos trabalhos anteriores de Hayao Miyazaki. Mas, logo entendi o motivo de tanta aclamação – profissional e pessoal ao diretor e sua filmografia.

A trama começa em 1942, durante a Guerra do Pacífico, e nos apresenta Mahito Maki (voz de Soma Santoki na versão original e Luca Padovan, em inglês), jovem de 12 anos que vê sua vida ser drasticamente alterada devido à repentina perda de sua mãe Hisako (vítima de um bombardeio em um hospital).

Um ano após o triste acontecido, o garoto e seu pai Shoichi (Takuya Kimura / Christian Bale) saem de Tóquio, rumo ao interior do Japão, onde passarão a viver na casa de Natsuko Kimura (Yoshino Kimura / Gemma Chan) – tia materna de Mahito, prestes a tornar-se sua madrasta e que está à espera de seu primeiro filho.

Com as obrigações profissionais em uma fábrica de peças bélicas mantendo seu pai a maior parte do tempo longe de casa, o menino se verá na complicada situação de ter que responder, de maneira solitária, a questão (muito mais complexa e profunda que pode parecer à primeira vista) “Como você vive?”. Tal indagação também está no título do romance “How do you live?”, lançado em 1937, do autor japonês Genzaburō Yoshino, no qual a produção cinematográfica é levemente baseada.

Esse será o tema da busca de Mahito que, entre a dor do luto, a impossibilidade de evitar mudanças radicais, o inevitável medo do desconhecido e ânsia desesperada por isolar-se (mesmo que para isso, até mesmo a dor física se faça necessária), acabará descobrindo que, por trás desse véu de normalidade imposto pela vida, pode haver muito mais a se conhecer e aprender.

Seu guia nessa jornada será uma majestosa garça real (Masaki Suda / Robert Pattinson), que passa a rondar seus passos, desde sua chegada à nova residência. Recebida de modo pouco amistoso (afinal, o garoto cresceu em meio à violência e esse é um elemento presente em sua rotina), logo a figura mostra-se interessante o bastante para despertar sua curiosidade – sentimento amplificado por uma promessa que deve tocar muitos corações na plateia.

A improvável dupla percorrerá uma espécie de mundo mágico, que servirá de cenário para a aparição de criaturas que transitam entre o encanto – na forma dos pequeninos Warawara (meus favoritos), e o temível – tão bem representado pelo Rei Periquito (Jun Kunimura / Dave Bautista) e seus asseclas antropomorfos.

E se o fantástico impressiona, assim também acontece com os personagens humanos, em especial, a jovem com poderes de fogo, Lady Himi (Aimyon / Karen Fukuhara) e o Tio-Avô de Mahito (Shôhei Hino / Mark Hamill) – ambos com grande importância, tanto na narrativa geral, quanto no caminho trilhado pelo menino nesse universo à parte.

A imbatível técnica 2D segue exercendo seu natural fascínio em milhares de quadros pintados à mão, que resultam em um permanente ar de obra de arte, onde cada frame é belo e nos fazer querer aproveitá-lo por completo, em todos os seus mínimos detalhes.

Sob a delicada trilha de Joe Hisaishi, andamos ao lado dos personagens, dividindo o peso de tantas descobertas e escolhas, tal qual acontece com cada um de nós, conforme se passam os anos e as responsabilidades tornam-se mais frequentes do que os momentos de prazer. E assim, talvez nos aproximemos, de modo inato, da resposta à importante questão que fundamenta o longa.

Com várias conquistas prévias – entre elas, o Globo de Ouro e o Bafta (sendo o primeiro anime a ganhar tal prêmio) – “O Menino e a Garça” também concorre ao Oscar de Melhor Animação, podendo tornar-se o segundo título do Studio Ghibli a vencer esta categoria (“A Viagem de Chiriro” levou a estatueta em 2003).

Vale muito a pena conferir nos cinemas.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Sato Company.

Filed in: Cinema

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