Personagens cativantes que são peças-chave em uma história naturalmente divertida. Esses são os grandes atrativos da comédia franco-belga “O Retorno do Herói” (Le Retour du Héros), dirigida por Laurent Tirard – que também está à frente do roteiro junto a Grégoire Vigneron.
A trama passada na França, em 1809, começa com o imponente Capitão Charles-Grégoire Neuville (Jean Dujardin) pedindo a mão da jovem Pauline Beugrand (Noémie Merlant) em casamento. Mas, o momento de romance e festejo acaba interrompido pelo recrutamento do oficial que deverá servir seu país na guerra.
Com o não cumprimento da promessa de escrever cartas diárias à sua pretendente, Neuville se torna responsável pelo abatimento de Pauline, que chega a adoecer gravemente. E esse – ainda bem – é o máximo de carga dramática que você verá no filme.
Preocupada com a saúde precária da irmã caçula, Elisabeth (Mélanie Laurent) começa a escrever cartas frequentes como se fosse o capitão. Nelas, conta façanhas dignas de um verdadeiro herói, como o enfrentamento de peito aberto diante de 2.000 soldados do exército inglês, até que em uma missiva final, paira a ideia de que ele não mais retornará ao lar com vida.
Três anos se passam e o nome de Neuville é exaltado por todo o povo local, que vê em seu ilustre morador a figura heroica de quem deu a vida por seu país. Tudo corre bem até o improvável retorno do protagonista em situações bem menos glamorosas do que se poderia imaginar para alguém com seu pefil.
Esse é o ponto de partida para uma sucessão de bem executadas situações que têm tudo para entreter os espectadores. Primeira a saber que o capitão está vivo, Elisabeth terá que elaborar um plano imediato para que a farsa de suas cartas não seja descoberta. Essa aproximação dos personagens – que não têm um bom relacionamento entre si, sendo opostos em vários aspectos, inclusive no que diz respeito a caráter – acontece de forma muito divertida, apesar de obviamente forçada.
Quanto mais se passa o tempo, mais enredada nas próprias mentiras fica a dupla, que para piorar, ainda conta com a boa lábia de Neuville, que faz questão de incrementar ainda mais as histórias escritas por Elisabeth, quando as conta pessoalmente em reuniões realizadas apenas para exaltar sua coragem e determinação em seus anos de batalha.
O roteiro não chega a ser surpreendente – apesar de várias reviravoltas, não é difícil imaginar o que acontecerá no ato final da produção – mas talvez (ou justamente) por isso funcione tão bem. Há um excelente equilíbrio entre o humor escancarado e os momentos em que mesmo com textos cômicos, seja viável enxergar críticas pertinentes a assuntos que, mesmo tendo se passado mais de 200 anos, ainda vêm à tona.
Destaque para a cenografia e figurinos ricos em detalhes e que remetem ao início dos anos de 1800 com bastante competência. E para o bom trabalho do elenco de forma geral, ressaltando a dupla Jean Dujardin e Mélanie Laurent, que entrega interpretações primorosas e transforma seus personagens em figuras fáceis de se torcer pelo êxito.
Vale conferir!
por Angela Debellis