Crítica: “Oppenheimer”

Escrito e dirigido por Christopher Nolan, “Oppenheimer” chega aos cinemas de maneira suntuosa. Indicado para ser visto em telas IMAX (o que faz muito sentido, já que a experiência tende a tornar-se ainda melhor com tal recurso), o longa é grande não só em sua concepção de roteiro, mas em sua duração – com 180 minutos, torna-se o mais extenso trabalho do diretor.

Baseado no livro lançado em 2006, vencedor do Prêmio Pulitzer, “Oppenheimer: O triunfo e a tragédia do Prometeu americano”, de Kai Bird e Martin Sherwin, o filme faz um pungente relato do caminho percorrido pelo brilhante físico teórico J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy, em interpretação sublime), até chegar a Trinity, que seria o primeiro teste de uma bomba atômica no mundo, em julho de 1945.

Como só um advento dessa magnitude poderia exigir, foi criado o Laboratório de Los Alamos, uma verdadeira cidade no deserto Jornada Del Muerto (localizado no Novo México), para receber os melhores cientistas da época e a suas famílias. Os profissionais passaram cerca de três anos, empenhados em tornar o chamado Projeto Manhattan em realidade.

Sob a potente trilha sonora de Ludwig Göransson, a trama intercala a linha crescente dos exaustivos estudos e testes que resultaram em uma poderosa bomba que gerou o poder de 20 quilotons e um cogumelo de 12,1 km de altura (criando uma onda de choque que pôde ser sentida a 160 km de distância), a lembranças do protagonista, desde sua pós-graduação em Cambridge, até seu período como professor na Universidade da California, em Berkeley, com direito a passagens de uma conturbada vida pessoal.

A genialidade nata de Oppenheimer fica visível em cada detalhe de seu discurso, seja quando afirma ter aprendido o idioma holandês em seis semanas (a fim de ministrar uma palestra), ou quando se auto-define tão perfeita e dolorosamente, através de um verso do livro sagrado do hinduísmo, o Bhagavad Gita: “Agora eu me tornei a morte, o destruidor de mundos”.

Embora tudo gire em torno do chamado “Pai da Bomba Atômica” – seja por sua óbvia relevância na concepção de algo que influencia diretamente os armamentos de guerra até os dias atuais, ou pela tentativa (bem-sucedida) de confrontar seu inegável talento com um problemático senso de moralidade, a obra – que conta com um elenco coadjuvante de primeira linha -, também consegue abrir espaço para figuras impactantes, tanto na história real, quanto em tela.

São inúmeros destaques, entre os quais, Robert Downey Jr., que interpreta Lewis Strauss, empresário que atuou como presidente da Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos, cujas declarações parecem ter a capacidade de corroer aos poucos a base estabelecida pela competência e dedicação de Oppenheimer.

Sem dificuldade, ele mostra que, após a conclusão destes trabalhos iniciais (que culminaram na destruição de duas cidades japonesas – Hiroshima e Nagasaki – em 1945), o físico não teria mais importância para ser mantido em proximidade ao governo americano.

E Emily Blunt, que dá vida à Katherine “Kitty” Oppenheimer, esposa do protagonista, cuja importância vai crescendo à medida que a trama avança e a coloca em primeiro plano em uma das melhores sequências da produção.

Não creio que alguém tenha, de fato, imaginado que este seria um filme fácil de se assistir / digerir. A história da criação da primeira bomba atômica (que, mesmo seguindo tão assustadora, já foi, infelizmente, superada por outras armas ainda mais nocivas e que põem nosso mundo em um perigo muito maior) não tem como ser bonita ou agradável.

Ainda assim, seja através da adaptação de um roteiro magistral, de uma fotografia deslumbrante – que funciona tanto em cores, quanto em preto e branco (trabalho de Hoyte van Hoytema) – ou de uma sonorização que deve entrar para a história como uma das melhores já feitas no cinema, a verdade é que “Oppenheimer” não deve agradar a todo tipo de público – nem parece esse seu intento – mas cumpre com primor aquilo para o que foi concebido e é provável que vá colher os devidos louros por isso.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Universal Pictures.

Filed in: Cinema

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