Crítica: “Papillon”

Algumas narrativas nos fazem acreditar na máxima que prega que a realidade pode ser mais assustadora e /ou surpreendente do que qualquer tipo de ficção. É assim que eu enxergo a trama de “Papillon”, desde que a conheci em meados dos anos de 1970, quando, apesar de ser criança na época, jamais me esqueci de determinada cena chocante (e que, por sinal, foi “atenuada” nessa refilmagem que chega aos cinemas sob a direção de Michael Noer).

As cenas iniciais do longa nos apresentam Henri Charriére (Charlie Hunnam), conhecido pela alcunha de Papillon (borboleta, em francês), devido a uma tatuagem que ostenta no meio de seu peito. Mostrado como um exímio arrombador de cofres, ele leva uma vida cheia de proveitos na Paris de 1931, até que uma falsa acusação de assassinato de um gigolô acaba com tudo.

O protagonista é condenado à prisão perpétua, pena que terá que pagar na Colônia Penal da Guiana Francesa, um lugar tão execrável que fica difícil descrever todas as ações duvidosas que acontecem lá dentro. É nesse local que conhece Louis Degas (Rami Malek), milionário que fez fortuna graças a falsificações e fraudes financeiras. Juntos, tentarão sobreviver ao inferno diário imposto por um regime que não se importa em decapitar um prisioneiro em frente a todos os outros, caso este seja responsável pela morte de alguém durante tentativas de fuga.

Entre os onze anos que passou encarcerado, Papillon enfrentou todo tipo de humilhação. Esteve por duas vezes na solitária (em sentenças de dois e cinco anos), foi espancado, submetido à escuridão e silêncio total, teve que se manter vivo com uma alimentação tão precária quanto insalubre. E, apesar de tudo, sobreviveu sem nunca deixar de acreditar que conseguiria alcançar a liberdade novamente.

O roteiro do longa é baseado em um livro autobiográfico, escrito por Henri Charriére após sua bem sucedida fuga da chamada Ilha do Diabo (para onde foi levado após duas investidas  anteriores fracassadas. Quando passou a viver na Venezuela. A obra foi originalmente lançada em 1969 – em seu país natal, França – e tornou-se um best-seller mundial, com milhões de cópias vendidas.

Na versão de 1973, quem dá vida ao protagonista é Steve McQueen, enquanto Dustin Hoffman vive Degas. Seria injusto comparar suas atuações com as de Charlie Hunnam e Rami Malek, já que os quatro se saem bem em cena. A trama, apesar de ainda muito impressionante, me pareceu mais “branda” em alguns momentos – se é que é possível amenizar o sofrimento – talvez pelo fato de haver um intervalo de tantos anos entre as produções e, obviamente, tantas mudanças nos pensamentos dos espectadores.

Ao término da sessão, o incômodo permanece. Seja pela sensação sufocante sentida nas cenas de Papillon na solitária – principalmente nas sequências escuras e silenciosas – ou pela incredulidade em imaginar que a rigidez torturadora do sistema prisional da época possa ter sido aceita em algum momento. Mesmo que haja a possibilidade de algumas coisas terem ganhado o acréscimo da liberdade de expressão, é o teor da história real que impressiona.

Vale conferir.

por Angela Debellis

Filed in: Cinema

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