Embora seja um tema recorrente em minhas reflexões, eu sigo um tanto quanto cética em relação à ideia de que o destino de cada um já está escrito. Porque algumas coisas parecem mesmo talhadas para se tornarem muito maiores do que previstas inicialmente.
É o caso da “Premonição”, cuja ideia original foi concebida no formato de um episódio que seria incluído de uma das temporadas da aclamada série “Arquivo X”, mas que foi recusada e acabou virando o ponto de partida de uma das franquias mais célebres e surpreendentes do cinema.
Com um longo intervalo de quatorze anos, desde o lançamento de sua quinta sequência, um novo capítulo chega às telonas e prova que, o quanto faz diferença ter um material relevante para se trabalhar. Mesmo depois de tanto tempo, assistir a um filme da saga continua sendo uma experiência única e inesquecível para quem gosta do tipo de terror oferecido por ela.
Escrita por Guy Busick, Lori Evan Taylor e Jon Watts, a trama de “Premonição 6: Laços de Sangue” (Final Destination: Bloodlines) traz todos os elementos esperados pelos fãs, ao mesmo tempo em que oferece uma abordagem inédita (e altamente eficaz) ao transformar as vítimas em membros de uma mesma família – e não apenas amigos / conhecidos como visto antes.
Dessa vez, a visionária é a universitária Stefani Reyes (Kaitlyn Santa Juana), que sem maiores explicações começa a ter um pesadelo recorrente, envolvendo um grave acidente que teria vitimado dezenas de pessoas. Diferente das narrativas anteriores, nesta, a protagonista assume um papel de espectadora externa, já que ela não está envolvida nos acontecimentos da visão.
Tal ocorrência contemplada em seus sonhos de deu em Maio de 1968, quando o recém-inaugurado restaurante Sky View despencou do alto dos cento e cinquenta metros da torre de nove toneladas no qual se localizava.
Uma série de pequenos incidentes criou uma reação em cadeia potente o bastante para dizimar a vida de inúmeros clientes quem estava no local, incluindo a avó materna de Stefani, Iris (nessa fase, vivida por Brec Bassinger).
Após ter uma premonição e visualizar tudo que levaria à destruição do estabelecimento, a jovem Iris consegue impedir a secessão de fatos e não só escapar junto ao noivo Paul (Max Lloyd-Jones), mas mudar drasticamente os planos da morte – e isso nunca passa impunemente nos títulos da série.
Em busca de respostas – e do fim dos sonhos ruins – Stefani procura por informações que a levem até sua reclusa avó (agora interpretada por Gabrielle Rose). Tal decisão implicará em uma árdua tarefa: interromper a ação da “inevitável”, que espreita os familiares de quem a desafiou há mais de cinquenta anos.
Aqui há um interessante e bem trabalhado paradoxo: reduzir quem está em perigo a um núcleo familiar acaba por aumentar o senso de urgência e dá um peso inédito e um bem-vindo frescor à ideia de ter que salvar entes queridos. Em meio a isso, também há o fato de que segredos que podem mudar a dinâmica do jogo vêm à tona e complicam o que já não era muito fácil.
Utilizando com sabedoria aquilo que deu notoriedade à franquia, o longa traz mortes memoráveis (por mais que essa frase não pareça tão politicamente correta assim). O gore está firme em cada finalização, desbloqueando com sucesso, novos traumas nos fãs. É bem provável que equipamentos de ressonância magnética e caminhões de recolhimento de lixo entrem para a galeria – ao lado de toras de madeira, câmaras de bronzeamento artificial e montanhas-russas – e nunca mais sejam vistos da mesma maneira.
Se o típico “exagero” das cenas é o óbvio destaque, algo bem mais contido também merece ser considerado como parte do coração da obra: pela última vez, o veterano ator Tony Tood interpretou o enigmático William Bludwort. Sua participação é reduzida, mas o impacto de sua presença, não só na história do filme, mas do gênero terror como um todo, é imensurável.
“Premonição 6: Laços de Sangue” dá um sangue novo (literalmente) ao ciclo iniciado no ano 2000 e abre a, até aqui, impensáveis alternativas de se levar a narrativa adiante. Como se nota, criatividade para colocar personagens em situações, digamos, desfavoráveis, não falta.
Corra (cuidado para não tropeçar!) para os cinemas.
por Angela Debellis
*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Warner Bros. Pictures.
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