Em tempos de pandemia, quando o mundo inteiro se viu obrigado a adaptar suas rotinas a uma nova – e até mesmo cruel – realidade, um assunto tem se mantido ainda mais em voga: até que ponto as instituições de ensino e seus funcionários são responsáveis pela educação (moralmente falando) de seus alunos?
Neste momento propício, acontece a estreia de “Professor” (Teacher) na plataforma de streaming Cinema Virtual. Dirigido e roteirizado por Adam Dick, o drama americano traz, de maneira bem explícita, os horrores que podem ser causados pelo temido e tão complicado de controlar bullying – seja ele presencial ou virtual.
James Lewis (David Dastmalchian) é um professor de inglês cujo passado comporta fatos traumatizantes no relacionamento com os pais, que passa por mais um período turbulento em sua vida pessoal com a iminência de um divórcio nada amigável.
Ao mesmo tempo, na posição funcionário de um prestigiado colégio particular, ele se vê no papel de peça fundamental em casos de violência física e emocional ligados a um de seus alunos de pior comportamento, Tim Cooper (Curtis Edward Jackson).
Amparado pela forte influência do pai – um dos mantenedores do colégio – o jovem milionário, que compensa a falta de caráter com o brilhantismo no beisebol, não tem nenhum tipo de filtro moral e não se priva das oportunidades de humilhar colegas de classe, em especial Preston Walsh (Matthew Garry) e Daniela Lopez (Esme Perez), adolescentes “fora do padrão” de excelência estabelecido pela criação abastada de Tim.
Entre agressões físicas e morais – que pioram à medida que o bullying não é exterminado – o roteiro do longa mostra as graves consequências de se fechar os olhos a problemas que estão bem em frente a nós, mas com os quais não acreditamos dever interferir, chegando ao ponto culminante em que vidas quase são perdidas através de surras e tentativas de suicídio.
Quanto mais James se envolve na história, mais fatos vão sendo descobertos. No caminho permeado de ameaças tanto veladas quanto cristalinas, o medo ganha contornos diferentes e palpáveis. E, o que poderia ser explicado como um desvio de caráter grave, mostra-se resultado de uma vida inteira regada a aparências, mentiras e exigências exacerbadas.
Em dado momento do drama, há uma marcante citação que afirma que “pobres fazem pedidos a estrelas. Ricos assinam cheques”. E essa é mais uma das vezes em que a ficção consegue ser tão dolorosamente impiedosa quanto a realidade que nos cerca. Histórias que poderiam acontecer conosco (ou próximas a nós), são, na maior parte das vezes, as que mais têm capacidade de atingir rapidamente os espectadores.
Ao término da exibição e após a descoberta de vários elementos que ajudam a compor a densidade da trama, embora eu tenha entendido a inevitabilidade de se encerrar da maneira apresentada, senti certa frustração – mas que não tirou o brilho da experiência de ter assistido ao filme. Talvez por imaginar que os olhos da justiça não foram suficientemente sagazes para perceber até que ponto ações podem ser justificadas em momentos extremos.
Vale a pena conferir.
por Angela Debellis
*Título assistido via streaming, a convite da Elite Filmes.