Por mais que alguns assuntos continuem parecendo (cada vez mais) clichês em filmes de terror, são eles que têm grande propensão a criar histórias que chamem a atenção do público fã do gênero, em uma espécie de parceria entre o conhecido e o eficaz. O que se amplifica com a frase “Baseado em Fatos Reais”.
Um tema bem recorrente é o que mostra uma família que se muda para uma nova residência (com o sempre temido sótão, tão presente em muitas produções do tipo) – sem nunca fazer uma pesquisa prévia sobre os moradores anteriores – e que acaba tendo problemas que vão de uma vizinhança disfuncional a criaturas/entidades pouco amigáveis que habitam o local (e normalmente não querem a permanência das pessoas lá).
Dirigido e roteirizado por Tord Danielsson e Oskar Mellander, “Quando o Demônio chama” (Andra Sidan / The Other Side / The Evil Next Door) tem uma premissa baseada neste argumento. A trama gira em torno de Shirin (Dilan Gwyn), jovem que assume o nem sempre fácil papel de madrasta do pequeno Lukas (Eddie Eriksson Dominguez), filho de seu namorado Fredrik (Linus Wahlgren).
O desconforto de Shirin diante da nova situação é visível desde a cena inicial e fica ainda mais claro com a convivência diária. Não existe um vínculo afetivo entre ela e Lukas (que perdeu a mãe para o câncer), mas isso terá que superado devido a acontecimentos que podem colocar a vida da criança em risco.
Quando Fredrik precisa se ausentar por alguns dias por causa de seu trabalho, caberá à dupla aprender a lidar um com o outro – o que acontece com mais urgência, quando Lukas começa a conversar com outro garoto de idade próxima a sua, creditando sua presença ao fato de que, supostamente, ele mora na casa.
Tal fato poderia ser encarado como a fase dos amigos imaginários pela qual boa parte das crianças passa, mas logo se percebe que é algo pior: a entidade não está apenas na imaginação do menino e tenciona levá-lo “para o outro lado” (expressão que traduz o título original da produção sueca e que faz todo sentido).
O mais interessante é que o intento se dá literal – porque a casa ao lado da adquirida pelo casal está vazia, em um sofrível estado de conservação e já foi palco do desaparecimento de uma criança – e figurativamente, porque muitos se referem ao fim da vida como a passagem para o outro lado. Simples e certeiro.
Com um ritmo que pode parecer lento para alguns, ainda mais se comparado a obras de terror do estilo blockbuster, “Quando o Demônio chama” alcança maior qualidade nos momentos finais, quando há um bom uso de efeitos visuais e a história ganha contornos mais ágeis.
Vale prestar atenção na sonorização do filme: para mim, os barulhos produzidos pela tal entidade são ainda mais impressionantes do que seu aspecto. Assim como se deve destacar a competência no uso da iluminação, que ajuda a proporcionar momentos de pura tensão.
por Angela Debellis
* Disponível para compra e aluguel. Verifique a disponibilidade nas plataformas: NOW, Looke, Vivo Play, Apple TV, Microsoft e Google Play.
** Título assistido via streaming, a convite da A2 Filmes.