Talvez – ou justamente – por ter ciência de que “Spotlight – Segredos Revelados” (Spotlight) é baseado em fatos reais (num trabalho laureado com o prêmio Pulitzer), o desconforto que sentimos cresce à medida que a trama dirigida Tom McCarthy se desenrola diante de nossos olhos.
Pedofilia é, provavelmente, um dos casos mais delicados que existem e isso o torna bastante complicado de se tratar. Não há como suavizar o horror de um abuso infantil, ainda mais quando este é maximizado pelo fato de envolver membros da igreja católica.
Pois este é o enredo do longa, que mostra o árduo trabalho de uma equipe de repórteres do jornal Boston Globe, denominada “Spotlight” que passa a se dedicar de corpo e alma à possibilidade de se provar a culpa de 70 cardeais, apenas na cidade de Boston, onde o filme se passa, no ano de 2001.
A dificuldade em se conseguir depoimentos, a nítida vergonha de cada vítima, os traumas que os “sobreviventes” (como se definem os que não cometeram suicídio ou se envolveram com drogas após os abusos), tudo é mostrado de maneira crua, dando ao espectador um papel bastante interessante: o de um observador que descobre os detalhes junto com os personagens e que, assim como eles, se envolve numa crescente de emoções que invariavelmente provocará algum tipo de reflexão ao término da sessão.
Sem entrar no mérito da religião em si, é repugnante imaginar o quão fácil parece ser manter em sigilo casos tão sórdidos. Mas a frieza de um advogado retratado no longa nos mostra que isso não só é possível, como pode ser tratado como banalidade.
O trio que encabeça a equipe do jornal é vivido por Mark Ruffalo, Michael Keaton e Rachel McAdams. Vale destacar as interpretações de todos, que lidando com o mesmo caso, se mostram tão diferentes entre si – como as peças de um quebra-cabeças que são fundamentais para o resultado final.
Vale conferir.
por Lara McCoy