Crítica: “Ursinho Pooh: Sangue e Mel”

De todos os gêneros cinematográficos, Terror é, provavelmente, um dos mais interessantes. E também um dos mais problemáticos. Isso porque quando um filme promete algo ao público (nesse caso, sustos, incômodos ou surpresas) e não cumpre, sua função se perde quase por completo.

Por outro lado, o subgênero trash é muito mais democrático, uma vez que não faz com que os espectadores sintam-se “enganados” por um resultado considerado ruim ou abaixo das expectativas, simplesmente, porque a qualidade duvidosa já fica explícita desde o nome que o define.

Essa é a sorte de “Ursinho Pooh: Sangue e Mel” (Winnie-the-Pooh: Blood and Honey), produção americana de baixo custo (US$ 100 mil), quando comparado a outras do tipo, que, mesmo não obtendo as melhores reações, conquistou uma bilheteria significativa o bastante (US$ 4,9 milhões) quando pensamos em equivalência, para levá-la a estrear em um circuito mais amplo do que o imaginado.

Escrita e dirigida por Rhys Frake-Waterfield, a trama começa com uma animação simples (mas com traços estranhamente bonitos) e gira em torno de Pooh (Craig David Dowsett) e Leitão (Chris Cordell), ou do que seriam suas versões bem menos fofinhas do que as originais de A. A. Milne, aclamadas do universo infantil e que servem para dar algum embasamento às figuras e torná-las mais acessíveis (mesmo que de uma maneira tão diferente).

Ao lado de seus amigos Ió, Corujão e Coelho, eles descobrem o poder e o valor da amizade, quando conhecem o garotinho Christopher Robin (Frederick Dallaway), com quem constroem laços de proximidade fortes, que causam dor quando partidos, anos depois. Com a chegada da maturidade, o agora universitário (nessa fase, interpretado por Nikolai Leon) só volta a procurá-los após cinco anos de afastamento, sem ter ideia do imenso mal que seu abandono repentino causou.

Mostrados como híbridos de animais e humanos, considerados aberrações (não se sabe se da própria natureza ou de algum experimento falho de laboratório), eles vivem isolados no Bosque dos Cem Acres, localizado na Floresta de Ashdow, no sudeste da Inglaterra.

A região ganhou os noticiários e as manchetes locais por ser o cenário de vários desaparecimentos e assassinatos sem solução, o que não parece suficiente para afastar pessoas interessadas em alugar imóveis para passar um fim de semana “tranquilo” por lá. Como é o caso de Maria (Maria Taylor), jovem que, junto a quatro amigas, busca esquecer um trauma recente.

Essa é a deixa para o roteiro entregar várias mortes sangrentas e absurdas (uma obrigatoriedade em obras do estilo trash/ slasher com pitadas de gore). Decisões equivocadas e que nos fazem questionar até mesmo a sanidade de alguns personagens acontecem em sequência e são um combustível a mais para que Pooh e Leitão mantenham-se firmes em sua decisão de abraçar o lado animalesco e odiar tudo que se refere à humanidade.

Não é possível (nem seria justo ou lógico) discutir sobre a baixa qualidade do longa, e nem sei se esse é um ponto a ser levantado. Dentre as inúmeras falhas – inclusive algumas gritantes, no que diz respeito a continuidade, ainda é válido exaltar os (improváveis) pontos positivos, como a boa trilha sonora de Andrew Scott Bell e uma cena em especial – fácil de identificar – cujo eficiente posicionamento de câmera faz com que a ameaça em tela pareça muito maior e assustadora.

E a opção por fazer com que Pooh e Leitão não falem, amplifica o temor causado pelos poucos sons que emitem. Muitas vezes, o silêncio pode ser bem mais perturbador do que discursos inflamados que tencionam incomodar.

Dentro de sua proposta, “Ursinho Pooh: Sangue e Mel” é, surpreendentemente, satisfatório. Ao não se vender como um título convencional de terror, e já deixar claro em seu trailer oficial, tanto a simplicidade de sua história, quanto a modéstia de seus figurinos / acessórios (entendam-se máscaras de látex sem expressão – o que costuma dar certo quando o intuito é transtornar), o filme acerta em cheio.

Mostrando que o conceito de trazer contos de fadas / histórias infantis para o mundo do terror pode ser uma boa, “Cinderella’s Curse” (“A Maldição da Cinderela”, em tradução literal), outra aposta do ITN Studios, tem previsão de estreia para outubro nos cinemas americanos. E Rhys Frake-Waterfield ainda planeja adaptar os clássicos “Peter Pan” e “Bambi”. Além é claro, de “Ursinho Pooh: Sangue Mel 2”, já em pré-produção.

Deixe de lado a ideia de que sua infância será destruída – afinal, as produções originais seguem disponíveis e intocadas nos catálogos de streamings e em nossas memórias – e aproveite as releituras “sombrias”. Se não for para se assustar, pelo menos para dar boas risadas.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela California Filmes.

Filed in: Cinema

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