Ken Loach, diretor de “Você não estava aqui” (Sorry we missed you), é um dos que atualmente tem um amplo currículo com uma atitude crítica da organização social, suas instituições e concepções – digamos assim, porque ele mesmo não gosta falar de “ideologia”. Seja, por exemplo, contra a burocracia estatal (Eu, Daniel Blake), contra o fascismo (Terra e Liberdade), ou com uma abordagem diferente de uma data terrível (um segmento de 11 de Setembro/11.09.01), etc.
Não que seja único, porque existem outros diretores atuais com obras nesta linha: o grego Constantin Costa-Gavras (as mais recentes O Corte, O Capital), os franceses Stéphane Brizé (O Valor de um Homem, Em Guerra) e Laurent Cantet (Recursos Humanos, Entre os Muros da Escola), os italianos Paolo Virzi (O Capital Humano), Nani Moretti (uma obra como Santiago, Italia), e Giulio Ricciarelli (Labirinto de Mentiras), diversos latino-americanos, como o argentino Luis Puenzo (La Historia Oficial), e os chilenos Patricio Guzmán (La Batalla de Chile), Andrés Wood (Machuca), Silvio Caiozzi (a curta-metragem Fernando Ha Vuelto) e Pablo Larraín (No).
A lista não é exaustiva e depende da memória – arbitrária e assistemática – e apenas procura dar um breve contexto cinematográfico. Um reconhecimento a autores que combatem a alienação. Isto é, que desvendam criticamente o tramado social, econômico e político.
Loach e Paul Laverty, seu roteirista habitual, fizeram, nesta ocasião, uma pintura que, curiosamente, é apenas descritiva. Ou parece sê-lo. Porque só aborda o momento atual em Inglaterra, onde vive uma família constituída pelo casal e dois filhos – um adolescente e uma menina. O fato desse homem ficar desempregado e ter que trabalhar por conta própria, porém vinculado a uma empresa que entrega mercadorias em domicílios, faz que tenham que assumir enormes riscos, esforços e sacrifícios.
A esposa trabalha como cuidadora de idosos, tarefa nada fácil e que se complica ainda mais com novas limitações econômicas. O filho começa um caminho rebelde, preocupante. A filha mais nova tenta ser uma ajuda em um quadro familiar cada vez mais difícil. Para piorar tudo, não faltam um chefe despótico, cruel, e pessoas intolerantes, agressivas e até delinquentes violentos.
Assim, a câmera de Loach não vacila e põe em evidência um sistema organizativo que não sabe de piedade. Que exige sacrifícios extremos a amplas camadas da população. Porém, não dá muitas esperanças.
Este último pode ser um ponto passível de crítica, porque o filme não procura, não vê uma saída. Outro aspecto estranho é que não há grandes méritos nas técnicas ou nas atuações, mas Loach sabe o que quer: concentrar-se nessa descrição. “Você não estava aqui” é uma obra que chama a atenção a problemas do mundo atual, sem estridências, nem destaques artísticos, mas, sobretudo, não dá concessões de nenhum tipo a uma organização social impiedosa que suga nossas energias, nossas vidas.
por Tomás Allen – especial para A Toupeira