Crítica: “X – A Marca da Morte”

A indústria pornográfica é um tópico complexo, sobre o qual existem opiniões muito diversas e extremamente conflitantes: Para alguns a pornografia é algo que, se usado com moderação pode servir de válvula de escape, para outros é um vício destruidor.

Também há aqueles que acreditam que ela em si é um problema, e que a violência e opressão – em particular contra as atrizes – persistirão enquanto existir essa indústria, enquanto outros creem que, com mudanças nos processos de produção, e/ou regulação e monitoração governamental, possa existir de maneira ética.

A única coisa que é certa sobre isso é: o mercado pornográfico existe há muito, e não deixará de existir tão cedo, mesmo caso seja criminalizado e proibido.

“X – A Marca da Morte” (X) explora justamente os dias seminais, que trouxeram atenção à indústria pornográfica, e a tirou do anonimato, ainda que sem explorar diretamente uma história real. No filme, vemos certos personagens estereotípicos do cenário pornô: a pessoa (geralmente mulher), que pretende se tornar famosa após trabalhar com este tipo de produção; assim como aqueles que atuam nesta área e não pretendem usar como alavanca para uma fama maior, mas apenas ganhar bastante dinheiro através dela; os que estão nesta por que gostam de se relacionar e se expor; o ator, geralmente negro, com uma genitália grande; o produtor que só quer saber de dinheiro e ter relações com quem ele achar mais bonita; e o incomum, mas não raro, diretor que acredita poder fazer arte com a pornografia.

Outra qualidade interessante do longa é que, mesmo sendo um clássico título de terror aos moldes de “O Massacre da Serra Elétrica”, explora vários temas atemporais, e, ainda que brutal e sangrento, com certa profundidade. Talvez dois dos mais marcantes sejam as questões do envelhecimento e da repressão sexual: o casal que abriga em sua fazenda a equipe de filmagem se vê tentando sempre retornar aos tempos da juventude, de maneira que vivem isolados para esquecer, e não ter contato com outros que seriam jovens. E, uma vez que há tal aproximação, tentam reprimir a tentação da sexualidade com o sexo propriamente dito e com violência.

Dirigida e roteirizada por Ti West, a obra também se destaca pela qualidade da fotografia. Em primeiro lugar, o uso de planos diversos, com diferentes tamanhos de lentes é magistral: como é de se esperar em uma narrativa que se passa em 1979, várias cenas utilizam de proporções de lente e ângulos que fazem referência aos tipos de filme e às práticas da época, em particular do pornô. Além disso, as transições dos planos, e de cenas são muito bem elaboradas, e brincam com a vastidão dos cenários, dando uma sensação de amplitude.

“X – A Marca da Morte” é um slasher movie diferente do comum, beirando o artístico. Ele impressiona na profundidade dos temas, mas também na violência gráfica. Pra quem tem estômago um pouco mais fraco, talvez seja melhor manter distância – mas em compensação, se não for este não for seu caso e você busca um filme brutal com conteúdo, não precisa mais procurar, é só conferir nos cinemas.

por Ícaro Marques – especial para A Toupeira

https://www.youtube.com/watch?v=bF9EhNvKbpo&feature=emb_logo

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela PlayArte Pictures.

Filed in: Cinema

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