Memória é uma coisa fascinante. Muitas vezes, eu me pego sem lembrar fatos recentes, enquanto outros acontecidos há décadas seguem com o mesmo frescor em minhas lembranças.
Um desses momentos foi quando assisti a “E.T. – O Extraterrestre” (E.T. – The Extra-Terrestrial) pela primeira vez, assim que estreou no Brasil, em dezembro de 1982. Eu me recordo não só da modesta sala de cinema “de rua”, mas da cor e da textura das cadeiras, do cheiro da pipoca que dominava o ambiente, do choro de crianças e adultos quando acreditaram que algo mais drástico havia ocorrido com o personagem que dá nome ao filme.
Percebi que tal experiência foi tão marcante e inesquecível, por ter uma importância na minha formação como ser humano. A amizade entre o garotinho Elliot (Henry Thomas) e o pequeno alienígena de olhos tão azuis é uma das minhas primeiras recordações sobre empatia, respeito frente ao que nos parece diferente, família, companheirismo e crença na bondade humana (assim como o roteiro de Melissa Mathison também deixou muito claro o pior lado de uma raça que mal sabe respeitar seus próprios semelhantes).
Foi através do olhar do diretor Steven Spielberg (que também é um dos produtores, junto a Kathleen Kennedy), que me apaixonei pela sétima arte, que aprendi que é possível – em 114 minutos – sentir surpresa, alegria, medo, tristeza, carinho e gratidão. Foi quando conheci o primoroso trabalho de John Williams (que rendeu uma, das quatro estatuetas do Oscar, à obra), que se tornaria meu compositor de trilhas sonoras favorito, responsável pela criação de temas de personagens tão fundamentais para mim, em tantas outras produções.
Quarenta anos depois, “E.T. – O Extraterrestre” volta a ser exibido, a partir de 02 de novembro, e tive a chance de rever o longa no cinema. Dessa vez, em um shopping, em uma imensa sala com tecnologia IMAX e som impecável. É claro que a toda essa qualidade superior ajuda – e muito – na imersão. De qualquer modo, meu encantamento prévio já serviu como um elemento confortável o suficiente, para também fazer deste novo momento algo muito bom.
Ao apagar das luzes e aparição dos créditos iniciais, esqueci que tantas décadas haviam se passado e me dei o direito de voltar a ser aquela garotinha de macacão jeans (como Gertie, personagem interpretada por Drew Barrymore) que saiu da sessão aos prantos – mas ao mesmo tempo, eufórica – pelo que tinha acabado de vivenciar, apesar de todas as limitações da época.
Sem dúvidas, quem já teve possibilidade de assistir ao filme antes (de preferência, na tela grande) terá uma visão diferente – fato comprovado ao término da Cabine de Imprensa, quando pude ouvir comentários díspares, de acordo com a geração dos espectadores. Talvez, a tecnologia e a velocidade com que tudo acontece nos dias atuais sejam fatores que podem contribuir para isso.
Felizes os que se deixam levar pelo desejo de voar em uma bicicleta junto a um amigo querido. Os que reconhecem o quanto boas relações servem como pilares no decorrer de nossas trajetórias. Os que sabem que histórias clássicas como essa são maiores do que qualquer passagem de tempo.
Imperdível.
por Angela Debellis
*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Universal Pictures.