Crítica: “45 do Segundo Tempo”

“A amizade é o conforto indescritível de nos sentirmos seguros com uma pessoa, sem ser preciso pesar o que se pensa, nem medir o que se diz”. As palavras de George Eliot (pseudônimo da novelista, poetisa, jornalista e tradutora inglesa Mary Ann Evans) traduzem o poder que amigos de verdade têm em nossas jornadas.

Sob a direção de Luiz Villaça (que também escreve o roteiro com Leonardo Moreira, Rafael Gomes e Luna Grimberg), “45 do Segundo Tempo” é sobre esse tipo de relação – que parece cada vez mais rara, mas que, quando surge em nossas vidas, torna-as, de alguma maneira, melhores de se viver.

A trama nos apresenta Pedro (Tony Ramos), Mariano (Ary França) e Ivan (Cássio Gabus Mendes), amigos de longa data que acabaram se distanciando devidos a rumos diferentes tomados ao longo de suas trajetórias. O reencontro acontece através do convite de uma revista, que pretende recriar uma fotografia deles tirada há 40 anos, durante a inauguração do metrô em São Paulo.

Após a surpresa inicial provocada pelas mudanças – tanto as provocadas pela ação do tempo, quanto as causadas por decisões tomadas conscientemente – o trio se vê colocado em uma espiral de situações limite.

É o momento de buscar a retomada das rédeas da vida, enquanto existe tal possibilidade. Para dar início a essa tentativa, os protagonistas partem em uma viagem rumo à cidade de Areado (município de Minas Gerais), em busca de reviver bons momentos passados em sua juventude, quando os problemas pareciam habitar um lugar longe e não ofereciam riscos reais.

Essa busca pelo passado é formada por momentos gratificantes e, até mesmo, novas experiências. Mas também traz consigo a dura verdade de que muitos anos se passaram e o que parecia perfeito ou intocável há décadas (graças à imaginação), nem sempre consegue se manter assim no mundo real.

É visível a crescente do relacionamento do trio, que, aos poucos, consegue recuperar a confiança que somente bons amigos desenvolvem. E isso ocorre através de vários acontecimentos simultâneos: a falência da cantina de Pedro (que pensa em acabar com a própria existência em breve), o divórcio de Ivan e o questionamento sobre a vocação sacerdotal de Mariano.

Com 110 minutos de duração, a comédia dramática não tem dificuldades em ganhar a simpatia do público, ao entregar um texto inteligente (que se equilibra entre o divertido e o emocionante) e momentos memoráveis, como a “conversa” de Pedro com sua cachorrinha Calabresa – cuja participação, embora pequena, é fundamental – durante a qual questiona o que o mundo fica melhor por causa dele (pergunta que todos fazemos, em algum momento, ainda que apenas internamente).

As participações de Denise Fraga como Lilian (a ex-esposa de Ivan) e Louise Cardoso como Soninha (a amiga de adolescência, que também ocupa o lugar de primeiro amor) engrandecem a obra e completam o elenco afinado e competente.

E sim, há espaço para o futebol no filme (cujo título carrega um sentido bem mais amplo do que parece), representado em duas das melhores sequências da produção, independente do time pelo qual você torce ou preferência esportiva.

Caso certos detalhes fossem alterados, muitas coisas poderiam ser diferentes em “45 do Segundo Tempo”, que deixa algumas pontas (propositalmente?) soltas. Mas isso não tira o mérito do longa, que cumpre a promessa de fazer rir e se emocionar.

Vale conferir.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine Virtual promovida pela Paris Filmes.

Filed in: Cinema

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