Crítica: “A Vida sem Você”

Adrian (Björn Elgerd) e Hamus (Jonathan Andersson) têm um relacionamento fadado ao fracasso: o primeiro manipulador, que nos pequenos detalhes tenta controlar e moldar sua contraparte; enquanto o segundo tem uma baixa autoestima que lhe faz sempre voltar mesmo quando terminam.

Porém o término desta vez é diferente: enquanto aos poucos Hamus começa a perceber o quanto sua falta de amor-próprio o mantinha num relacionamento destrutivo e passa a seguir em frente, Adrian começa a perceber o quanto ele realmente amava seu ex. A partir deste momento, cada vez que tentam se reaproximar, seja como apenas parceiros sexuais, amigos, ou apenas conhecidos cordiais, se veem cada vez mais distantes e magoados um com o outro.

Esta é a trama de “A Vida sem Você” (Are We Lost Forever?), com roteiro de e dirigido por David Färdmar. O sueco injetou certo elemento autobiográfico, baseando-se em suas próprias experiências amorosas, em particular uma recente à pré-produção do filme. Desta forma, existe uma profunda veracidade nos pontos centrais, que poucos são capazes de expressar, sendo fácil para quem passou por algo assim se identificar com vários elementos: os sentimentos não ditos; o distanciamento emocional; a dor da falta; as tentativas vãs de reatar; tentar superar mais rápido que o outro; o ficar para trás. Tudo isto são eventos que podem ocorrer frequentemente nos vários términos de relacionamentos.

O drama é de alta qualidade, e as atuações são centrais: em primeiro lugar, Jonathan Andersson, como Hamus, consegue retratar em suas expressões a evolução de um homem tímido, de baixa autoestima que aguenta de tudo pelo namorado, em uma pessoa determinada, que encontra um relacionamento em que ambas as partes se sentem bem; Björn Elgerd, como Adrian, traz à tona todas as oscilações e conseguimos sentir sua profunda dor ao ver alguém que amou tanto um dia seguir em frente e ser feliz de novo.

Um fator interessante sobre o filme é que não evita de mostrar o quão ignorante é o protagonista, Adrian, e ainda assim consegue empatizar com esse, quebrando as normas deste tipo de drama, nas quais ou tenta desculpar o personagem central, ou este ser o que sofre com o relacionamento tóxico. “A Vida sem Você”, várias vezes nos mostra o quanto Adrian agia de maneira claramente manipuladora e/ou destrutiva, não só em relação a Hamus, mas também a amigos e ex-parceiros.

Por sua vez, ao longa falta um pouco mais de contextualização, mostrar os momentos felizes que os levam a se apegarem tanto ao relacionamento, enquanto algumas cenas de sexo se prolongam desnecessariamente, ou não têm função nenhuma na trama.

Vale lembrar que não há problema na retratação do sexo em si, nem na forma como se dá este retrato, porém em um drama com um foco pesado na questão da perda e do apego, priorizar a parte sexual em detrimento da narrativa emocional é uma escolha estranha, para dizer o mínimo – não que isso não possa gerar apego ou saudades, mas poucas cenas demonstram a felicidade anterior do casal, e geralmente parecem retratar o mesmo momento.

Por fim, “A Vida Sem Você”, que estreia na plataforma de streaming Cinema Virtual, retrata o trágico esfacelamento de um relacionamento, e a difícil tarefa de seguir em frente, com grade verossimilhança e boa atenção para detalhes. Então para quem quer ver um título nesta linha do drama, é uma boa pedida.

por Ícaro Marques – especial para A Toupeira

*Título assistido via streaming, a convite da Elite Filmes.

Filed in: BD, DVD, Digital

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