Crítica: “Depois daquela montanha”

Não é possível fazer uma adaptação cinematográfica de uma obra literária sem ater-se ao fato de que esta é uma missão que precisará atender a dois públicos distintos: os que já conhecem a história apresentada no papel e os que ainda serão apresentados a ela através da versão para as telas.

Apesar de não ser nenhuma novidade, parece que o fato continua sendo ignorado em muitas ocasiões, o que faz com que produções que teriam tudo para serem inesquecíveis, tenham que se contentar com a ideia de serem apenas aceitáveis – às vezes nem isso.

Sob a direção de Hany Abu-Assad, “Depois daquela montanha” (The mountain between us) é baseado no best-seller homônimo de Charles Martin, e traz uma trama repleta de nuances que vão do drama ao suspense, passando pela aventura e, é claro, romance. A obra em questão foi uma de minhas leituras favoritas deste ano e talvez por isso mesmo eu esperasse por um filme que fizesse jus a ela.

A narrativa gira em torno do neurocirurgião Ben Bass (Idris Elba) e da jornalista Alex Martin (Kate Winslet), que se veem na iminência de perder compromissos inadiáveis, presos em um aeroporto devido a uma tempestade de neve. Eis que surge a oportunidade de chegar aos seus destinos com a ajuda de Walter (Beau Bridges), piloto veterano que concorda em levá-los em seu pequeno avião fretado, em uma atitude ousada que beira a falta de bom senso (mas sem a qual não haveria história, então, ok).

A viagem não é bem sucedida e, após a queda do avião, os protagonistas e um labrador – o adorável cãozinho do piloto – acabam em uma cadeia de montanhas, no meio do nada. Com pouca (para não dizer nenhuma) expectativa de serem resgatados e sem suprimentos / medicamentos que possam ajudá-los a manter-se vivos por muito tempo, caberá a eles encontrar forças que nem sabiam ter, para enfrentar a realidade que não se mostra muito piedosa.

A óbvia aproximação do casal se dá de maneira muito natural e a atuação dos atores é o ponto alto do longa. É fácil criar uma conexão com eles e torcer para que consigam vencer a batalha contra as baixas temperaturas e as crescentes possibilidades de não conseguirem voltar às suas rotinas.

Ben é mais sério e carrega consigo uma triste e surpreendente história em seu relacionamento com a esposa Sarah (que no livro tem uma dimensão infinitamente maior, sendo uma das responsáveis por um dos melhores finais que já li). Por outro lado, Alex ainda está na fase de encantamento que precede a vida de casada, com as típicas preocupações de uma noiva que não conseguirá chegar a tempo para o próprio casamento – e é quem manterá o clima mais suportável, com pitadas de bom-humor, inclusive em momentos em que ele não é tão comum.

O piloto Walter, que também tem uma trajetória de vida incrível no livro, aqui ganha pouquíssima visibilidade, inclusive porque quase nada é mantido como no original (uma decisão que, por mais que tente, não consigo entender, já que com tantas alterações, muito da carga emocional se perdeu).

Com um visual belíssimo – as paisagens que têm a neve como destaque são de encher os olhos – e boas atuações, o filme deve agradar principalmente quem só conhece sua sinopse oficial ou que apenas busca por entretenimento. Já os fãs do título no qual se baseia, poderão se decepcionar com a maior parte do apresentado na tela, pois a sensação de “não é bem assim que isso acontece” ou “por que mudaram tão drasticamente esse fato” persistirá do início ao fim da exibição.

por Angela Debellis

Filed in: Cinema

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