Crítica: “Kardec”

Apenas pelo título, já podemos presumir que em algum ponto da narrativa serão abordados temas religiosos, porém, há um forte apelo histórico no longa nacional, dirigido por Wagner de Assis. O filme é uma adaptação da obra escrita por Marcel Souto Maior “Kardec – A Biografia”.

A trama de “Kardec” conta história de Hippolyte Léon Denizard Rivail, ou simplesmente, Professor Rivail (Leonardo Medeiros), um cético, que indignado com as intervenções da igreja católica na educação francesa resolve se “aposentar”, porém, continua tentando dar aulas particulares em sua casa por acreditar na liberdade sem apelo religioso.

Nesta mesma época uma nova moda atinge a França: a das mesas flutuantes. De acordo com boatos, toda pergunta feita às mesas são respondidas, não especificamente pelo móvel, e sim, por espíritos. Era possível encontrar o “show” em vários espaços, o que para Rivail era uma grande tolice, pois como se sabe, mesas são objetos inanimados.

O filme faz muitas referências à importância de Rivail para educação francesa no século XVII, contudo, como a obra tem o intuito de trazer a construção – ou descoberta – de Allan Kardec, o feitos são apenas menções para dar ideia da importância do nome para época.

No longa, após muita insistência de um colega, o Professor decide participar de uma sessão para acompanha de perto o fenômeno das “mesas flutuantes” e já nessa primeira sessão tem o contato com o espírito de Allan Kardec, o que o deixa um tanto quanto instigado a desvendar o mistério por trás do ocorrido.

Rivail então, encara o fato como objeto de estudo, porém quanto mais se aprofundava na mediunidade, mais acreditava em tudo que via e queria mostrar aos demais suas descobertas. Chega a ser tachado como louco por estudiosos com quem partilhava conhecimentos acadêmicos.

Algo que impressiona – não pela inovação, mas pela repetição de ideais – é o fato de quem detém o poder interferir ou definir o que deve ser ensinado ou estudado, algo que quase 200 anos depois continua em prática por líderes autoritários. O longa traz também, mais uma vez, o poder da igreja católica sobre o governo, neste caso o império. Porém, ainda mais marcante são a queima de livros em praça pública e a “caça às bruxas” praticada por intolerância religiosa.

A cumplicidade de Leonardo Medeiros e Sandra Corveloni é impressionante. Sandra dá um toque todo especial ao casal, a atuação de ambos é equilibrada, combina perfeitamente com o ritmo exigido pela obra.

Com cenário muito bem elaborado e iluminação bem ambientada, a fotografia é um deleite à parte, impecável, um trabalho excelente de Nonato Estrela, que entre tanto trabalhos também foi diretor de fotografia em “Até que sorte nos separe 3”.

A produção cumpre o papel de biografia, contudo é um tanto quanto morna: O homem que se vê obrigado a sair de sua zona de conforto, enfrenta dificuldades, supera e posteriormente se torna referência. Caso esteja interessado em entender a criação de uma religião ou a de um líder religioso esta é a opção ideal.

por Carla Mendes – especial para A Toupeira

Filed in: Cinema

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