Crítica: “O Auto da Boa Mentira”

“Eu digo sempre que tenho uma simpatia muito grande pelos mentirosos. Eu não gosto do mentiroso que mente para prejudicar os outros, é evidente. Eu gosto do mentiroso que mente por amor à arte”.

É com essa curiosa e divertida citação de Ariano Suassuna que começa “O Auto da Boa Mentira”, produção nacional dirigida por José Eduardo Belmonte, cuja trama é formada por quatro contos baseados em histórias compartilhadas pelo poeta paraibano.

O longa traz narrativas bastante distintas (nenhuma tem ligação entre si), mas cujo mote central é o mesmo: sim, a mentira – que embora tenha a perna curta, consegue manter o ritmo ideal durante os 100 minutos de duração.

O primeiro conto tem como protagonista Helder (Leandro Hassum), funcionário da área de Recursos Humanos de uma empresa, que se sente pouco reconhecido por aqueles com quem trabalha. Até que, durante uma convenção em um hotel, é confundido com um comediante de renome e assume sua identidade para aproveitar “a boa vida”. Tudo muda quando encontra a jovem misteriosa Caetana (Nanda Costa), que vai mostrar a ele que, por trás dos bastidores, as coisas podem ser bem menos gratificantes do que sob os holofotes de um palco.

Depois é a vez de conhecermos Fabiano (Renato Góes), que é incumbido por sua mãe Luzia (Cássia Kis) de vender um valioso relógio de bolso para custear as obras de melhoria no jazigo de sua família. É durante essa missão que ele descobre que, na verdade, seu pai está vivo e atuando no circo que o rapaz frequentava quando criança. O reencontro com o chamado Palhaço Romeu (Jackson Antunes) comove, mas também guarda segredos calcados na mentira, como é a proposta da produção.

A terceira história se passa em uma comunidade carioca, na qual o inglês que trabalha como guia turístico, Pierce, (Chris Mason) inventa um assalto como desculpa para ter faltado a uma comemoração de seu amigo Zeca (Serjão Loroza), dono de um restaurante local. A lorota chega aos ouvidos do chefão do tráfico interpretado por Jesuíta Barbosa, que preza pela segurança dos moradores da região e não vai hesitar em colocar tudo em pratos limpos – mesmo que para isso, algumas vidas sejam colocadas em risco.

O conto derradeiro se passa em uma agência de publicidade, na qual Lorena (Cacá Ottoni) é estagiária. Ao ser convidada para a festa de confraternização de Natal da empresa, a jovem enxerga a oportunidade de se fazer notar diante dos olhos não só do proprietário da agência, Norberto (Luís Miranda), mas de seu interesse amoro platônico, Felipe (Johnny Massaro). Mal sabia ela que uma viagem à Disney ou a leitura em francês da obra de Albert Camus poderiam ser tão importantes para sua inserção nesse mundo dos “visíveis” na sociedade.

Ainda que com temas, ritmos e propostas tão diferentes, “O Auto da Boa Mentira” consegue uma coesão que faz com que, ao término da exibição, permaneça a vontade de acompanhar outras histórias. Mérito do ótimo roteiro entregue por João Falcão, Célio Porto e Tatiana Maciel.

Com cerca de 25 minutos cada, os contos mantêm-se interessantes do início ao fim e, a apresentação de imagens e declarações do próprio Suassuana entre eles, torna tudo ainda melhor.

Vale a pena conferir.

por Angela Debellis

*Titulo assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Imagem Filmes.

Filed in: Cinema

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