Crítica: “Sexy por Acidente”

“Este é o dia… Sua vida com certeza vai mudar. Este é o dia, quando as coisas se encaixam…”. Sob os versos da canção “This is the Day”, clássico dos anos de 1980 do grupo inglês The The, a sequência inicial de “Sexy por Acidente” (I fell pretty) já mostra de cara o que tenciona comprovar: mudança é a palavra-chave para supostamente se alcançar a real felicidade.

Renne Bennett (Amy Schumer) tem boas amigas, que a respeitam e gostam de sua companhia acima de qualquer coisa, mas não consegue encontrar um amor duradouro; tem um trabalho estável, mas que está longe de ser interessante ou satisfatório. É nessa gangorra que a protagonista se encontra quando decide matricular-se em uma academia para perder peso, carregando a certeza de que isso bastará para aumentar sua autoestima e fazê-la mais segura de si.

Durante uma aula de spinning, ela sofre uma queda da bicicleta ergométrica e bate a cabeça no chão. Ao recuperar os sentidos, passa a ter uma visão totalmente distorcida da própria aparência e acredita ter alcançado o objetivo do “corpo perfeito” que abrirá todas as portas dali por diante. Com a segurança sólida, ela parte em busca da realização de novos sonhos, que sempre foram postos de lado por temer não ser capaz de concretizá-los, pelo simples motivo de estar “fora dos padrões” que a sociedade insiste em tachar como corretos.

Para mim, o grande acerto do filme é optar por deixar o público ver as imagens reais e não as alucinações de Renne. Enquanto ela se gaba em frente ao espelho e exalta a própria aparência “perfeita”, o que vemos em tela é a mesma personagem, sem nenhuma alteração física – apenas emocional – e é justamente esse ponto que nos faz ter ainda mais simpatia por ela, que dentro de suas singularidades é uma pessoa cujas qualidades se sobrepõem a qualquer tipo de defeito que o reflexo possa mostrar.

O problema é que, até mais do que aqueles que a cercam, a própria Renne acaba se boicotando ao crer que é preciso uma aparência inalcançável (daquelas que só um bom programa de edição é capaz de criar) para ser merecedora de felicidade e/ou sucesso. Ao mesmo tempo em que a ideia é provar que uma autoestima elevada pode produzir “milagres”, há cenas que mostram que isso nunca será o bastante para se destacar nos dias atuais. É confuso, pode parecer errado, mas no fim, é apenas a representação mais próxima do que costuma acontecer em muitos casos na vida real.

Com a carreira consolidada como comediante, Amy Schumer parece bastante à vontade em tela, ainda que em momentos que poderiam ser constrangedores para a maioria das pessoas ou que fiquem no limite do humor cruel (aquele feito através de piadas cujo teor mostra-se ofensivo de maneira desnecessária).

O elenco do longa dirigido e roteirizado por Abby Kohn e Mark Silverstein ainda conta com Michelle Williams em interpretação propositalmente forçada / exagerada, para dar vida à Avery LeClair, chefe de Renne e magnata do ramo de cosméticos.

Talvez “Eu me sinto bonita” (tradução literal do título original, que deve ser entendida da maneira mais ampla possível) coubesse melhor para expressar um dos primeiros passos que todos deveriam dar para, quem sabe, começar a viver de maneira mais justa e feliz.

por Angela Debellis

Filed in: Cinema

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