Por mais que não se possa generalizar, é válido dizer que a esmagadora maioria das pessoas já ouviu falar de um certo ratinho simpático que completará 100 anos em 2028, cuja imagem estampa milhares de produtos – licenciados ou não – ao redor do mundo.
No início de 2024, a primeira representação do personagem (vista no curta animado de 1928, “Vapor Willie” – “Steamboat Willie”, no original) caiu em domínio público, então, agora é possível acompanhar uma versão bem menos fofinha do roedor nos cinemas, com a estreia de “Screamboat – Terror a Bordo” (Screamboat).
Dirigido por Steven LaMorte (igualmente responsável pelo roteiro junto a Matthew Garcia-Dunn), o longa abraça por completo a ideia de não se levar a sério. O que tira dele a responsabilidade de entregar um resultado aterrorizante de verdade, para lhe dar a opção de ser um memorável representante Trash do subgênero Slasher, que aflige com (várias) cenas de Gore e diverte como um bom Terrir.
A trama se passa em Nova York, quase sua totalidade dentro de uma balsa com destino a Staten Island, apropriadamente nomeada como Mortimer. A centenária embarcação será palco de todo tipo de barbaridades cometidas por um passageiro, no mínimo, peculiar: um rato (no sentido literal da palavra).
O astro peludo é Screamboat Willie (David Howard Thornton), cuja história se inicia muitos anos atrás, quando ainda era visto como um exemplar adorável de roedor. Mas, como sempre, a ganância humana o transforma em algo que está longe de ter o apelo imaginado por seus criadores.
Após décadas encarcerado no porão da balsa, Willie está à solta e com uma imensa sede de vingança. Além disso, outro fato importante move a sangrenta trajetória do protagonista e essa é uma das coisas mais bacanas e funcionais da narrativa (falar sobre ela seria spoiler).
Trilhando um perigoso caminho que separa o que pode se dito/mostrado sem ferir direitos autorais, do que poderia causar processos (com valores bem mais robustos do que seu orçamento – que, embora não tenha sido divulgado, nitidamente é bem modesto), a obra se apega a inúmeros – e divertidíssimos – detalhes e referências que os fãs das franquias relacionadas vão perceber sem dificuldade.
Os responsáveis por apresentar a maioria de tais menções são os personagens humanos, cujo elenco é encabeçado pelo dedicado – quase irritante – funcionário do Porto de Nova York, Pete Jesse Posey; a aspirante a figurinista Selena (Allison Pittel) e sua indefectível bolsa de poá; e a paramédica Amber (Amy Schumacher) – que credita todos os males à glicemia baixa (quase uma versão nova-iorquina para o diagnóstico brasileiro de virose).
Enquanto luta para manter suas vidas, o grupo terá que lidar com outra atrocidade: a celebração de aniversário de uma passageira sem a menor noção: Cindi Kailey Himan – que, ao lado de suas amigas produtoras de conteúdo e de nomes sugestivos, assume o posto de personagens que os espectadores mal aguardam cair nas mãos (nesse caso, nas patas) do protagonista malvado.
Se tem pontos fracos (os habituais desse tipo de produção com poucos recursos), o filme também tem com muitos acertos, entre os quais vale destacar a inserção de trechos animados, a fim de contar determinadas passagens; e a interpretação de David Howard Thornton (que dá vida a Art, o Palhaço da franquia “Terrifier”), cujos movimentos corporais ajudam a criar a identidade visual do debochado e implacável Willie.
Talvez tendo como base sucessos inesperados como “Ursinho Pooh: Sangue e Mel” (que já ganhou uma sequência e teve seu terceiro capítulo confirmado), “Screamboat – Terror a Bordo” deixa uma imensa porta aberta, com a nítida intenção de dar continuidade à saga nas telonas. O que pode acontecer, afinal, “Um grito é o desejo que seu coração faz” (ou quase isso).
por Angela Debellis
da Redação A Toupeira
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