As vagas no mercado de trabalho, assim como salários justos, são cada vez mais raras no mundo todo. E, quando a agência de empregos liga avisando sobre uma entrevista, que aconteceria em uma hora, o que resta é correr para não perder a oportunidade. Afinal, as contas não esperam. Esse é o início de Hench: Trabalho Sujo, lançamento da Editora Melhoramentos.
A história vai bem além e fica muito melhor com a criatividade da autora, Natalie Zina Walschots. Ela cria um universo paralelo no qual existem super-heróis e vilões. Mas fica a pergunta, que aparece naturalmente, ao longo das páginas: quem é o vilão, e quem é o super-herói?
Anna, a desempregada que recebeu a ligação da agência de emprego, faz coisas chatas para pessoas terríveis, porque até os vilões precisam de ajuda com as burocracias de escritório, e ela, mais do que nunca, de um trabalho.
Trabalhar para o lado “mau” da história, uma classe à margem da sociedade, não é nada glamuroso. Mas será que é realmente pior do que prestar serviços para um conglomerado de petróleo ou uma empresa de seguros? Uma questão que provoca até um eczema nas mãos da protagonista, causado por estresse.
Como freelancer, Anna é apenas uma engrenagem na máquina. Mas, quando é contratada para analisar dados para um vilão bem conhecido e excêntrico, Anna enxerga nesse trabalho a oportunidade de ser efetivada e finalmente ter alguns benefícios.
Só que, ao ser chamada para participar de uma missão em campo (uma coletiva de imprensa que, na verdade, tratava-se de um sequestro), a situação sai do controle e Anna acaba gravemente ferida por um dos maiores heróis da atualidade: Superimpacto, que tinha, inclusive, uma mandíbula perfeitamente quadrada de um modelo de comercial de creme de barbear. Aliás, os nomes de super-heróis e vilões são um caso à parte: Palíndromo, Enguia Elétrica, Eletrocutador, Acelerador e por aí vai.
Os graves ferimentos a impedem de trabalhar e Anna usa o tempo livre para estudar as consequências negativas da atuação dos heróis. Começa a ser preparado o Dossiê do Estrago. A autora, neste momento, propõe uma discussão sobre a moralidade e como o marketing pode influenciar a percepção do público sobre algo.
Quantas pessoas morrem durante um confronto entre heróis e vilões? Quantas ficam, como ela, incapacitadas de realizar suas atividades? Essas vidas estão sendo perdidas em troca de quê? Os heróis estão fazendo um bem maior ou apenas usando seu poder destruidor sem sofrer nenhuma punição?
Com o passar do tempo, Anna vai descobrir que o maior ativo de um super-herói é saber comparar, manipular e transformar os dados a seu favor. E de dados ela entende muito bem. Tanto, que tem muito a oferecer a seu próximo empregador.
A história é recheada de humor ácido. As conversas imperdíveis de Anna com a melhor amiga, June, que sabem rir das próprias tragédias, provocam gargalhadas. Os diálogos aparecem nas páginas como se estivéssemos vendo a tela de um smartphone. Elas falam até sobre como colocar a vida sexual em dia por meio do Tinder.
O New York Times fez uma crítica que resume bem o espírito de Hench: “Espirituoso e inventivo… o prazer deste livro está no desenrolar lento das regras. Criar um universo envolve inventar muitos pequenos problemas, e as soluções aqui não decepcionam”.
Ficha Técnica:
Título: Hench: Trabalho Sujo
Autora: Natalie Zina Walschots
Editora: Melhoramentos
Número de páginas: 336
Altura: 23 cm
Largura: 16 cm
ISBN: 978-65-5539-572-3
Preço sugerido: R$ 54,90
da Redação A Toupeira