Crítica: “A Bruxa dos Mortos: Baghead”

Receber uma herança de um parente com quem não se tem contato há anos e cujo qualquer tipo de proximidade emocional torna-se nulo pelo afastamento físico, não parece algo ruim. Mas, em se tratando de filmes de terror, isso deve ser encarado, no mínimo, como suspeito.

A trama de “A Bruxa dos Mortos: Baghead” (Baghead) tem início quando a protagonista Iris Lark (Freya Allan) fica sabendo da morte de seu pai, Owen (Peter Mullan). A jovem – sem emprego e recém -despejada de seu apartamento na Inglaterra – descobre ser herdeira de um bar decadente em Berlim, aonde o pai (que abandonou a esposa e a filha única ainda criança) trabalhava e residia.

Imaginando que talvez possa ficar por um tempo no local, até se restabelecer financeiramente, ela não faz ideia do que está por trás da assinatura de transferência do imóvel para seu nome. O que acaba percebendo com a aparição o misterioso Neil (Jeremy Irvine) – morador das proximidades, que oferece um valor considerável de euros, para ter uma conversa com a bruxa (muito bem interpretada por Anne Müller) que vive no porão do bar, a fim de conseguir despedir-se de sua esposa Sarah (Svenja Jung), falecida há um ano.

A entidade em questão é a tal bruxa do título, cujo poder resume-se a “incorporar” a alma dos mortos, através do contato com algum objeto que lhes pertenceu. Uma vez estabelecido o elo, é possível conversar com o ente querido que partiu, por dois minutos – passado esse tempo, não há como controlar os perigosos efeitos dessa ligação.

O único com alguma autoridade (por assim dizer) sobre as ações da bruxa é o guardião responsável por mantê-la presa no porão. No caso, tal incumbência é passada a cada novo proprietário do estabelecimento. Ou seja, mais do que uma edificação caindo aos pedaços, Iris também recebeu uma função cuja existência / importância jamais poderia supor.

Tal regra de obediência ao tempo limite (que é até simples, para o padrão de algumas conjurações de obras do gênero), obviamente não é cumprida – o que é algo esperado quando pensamos em atitudes de personagens de terror. Mas, a verdade é que, em alguns momentos, a falta de bom senso torna-se quase uma figura palpável (e, isso sim, é desesperador).

O vértice mais lúcido entre as figuras em tela é a amiga de infância de Iris, Katie (Ruby Barker), que logo percebe e entende os riscos que as interações com a bruxa podem trazer, acima de qualquer possibilidade de lucro que se poderia obter com elas. Mas, o que tem mais força? O conhecimento ou a ganância?

Uma vez que a trama (escrita por Bryce McGuire e Christina Pamis) se estabelece, o que se vê é uma clara possibilidade de se entregar algo, no mínimo, interessante. Clichês – válidos e batidos – caminham lado a lado com bons jump scares e uma maquiagem surpreendentemente adequada, na maior parte das sequências.

O longa alterna acertos e erros com mesma facilidade. Se por um lado, a redução de cenários (a história se passa, basicamente, dentro do bar) parece um bom recurso para causar uma constante sensação de sufocamento, a baixa iluminação persistente faz com que algo se perca no caminho.

E se há cenas ótimas (incluindo uma que me fez lembrar de imediato de uma das minhas produções favoritas do gênero, “Arraste-me para o Inferno”), também há outras que deixam a impressão de que poderiam impactar mais do que conseguiram.

Sob a direção de Alberto Corredor (que, em 2017, também dirigiu o curta homônimo de Lorcan Reilly – vencedor do prêmio de Seleção do Público para Melhor Curta Internacional do Nevermore Film Festival em 2019 – que deu origem ao longa), “A Bruxa dos Mortos: Baghead”, no geral, encontra boas soluções para cada ramificação de sua narrativa – o que não deixa de ser um feito e tanto, diante de suas limitações.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Imagem Filmes.

Filed in: Cinema

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