O cinema brasileiro experimenta vertentes interessantes, aprofundando o cotidiano muitas vezes esquecidos por nós mesmos, cidadãos, ou temas marginalizados e tratados com indiferença.
“A Cidade dos Abismos”, dirigido por Priscyla Bettim (que também assina o roteiro) e Renato Coelho, trabalha justamente esta temática, em uma São Paulo crua, fria e infernal.
A história acompanha três pessoas: Glória (Verónica Valenttino), uma mulher trans; Bia (Carolina Castanha), uma jovem de classe média; e Kakule (Guylain Mukendi), um imigrante africano, que testemunham um assassinato violento na véspera do Natal. A vítima é a jovem Maya (Sofia Riccardi).
O crime, que acontece em um bar em São Paulo, acaba mudando para sempre a vida dos três, que, movidos pela investigação falha do caso e, consequentemente, pela impunidade dos criminosos, decidem ir atrás dos responsáveis por conta própria. Agora, a vontade de justiça transforma o que antes era um grupo de quase desconhecidos em uma amizade inesperada.
Por ser o primeiro trabalho da dupla de diretores, que até então tinham trabalhado apenas com curtas metragens, nota-se que o filme tem aspectos bem amadores, ainda que se deva destacar muitas cenas belas, mas isoladas.
As atuações, no geral, também não são tão primorosas, mas não chegam a impactar ou comprometer na soma final. A amizade criada pelos protagonistas é bem convincente e, dada a proposta do longa, isto é algo a se considerar.
“A Cidade dos Abismos” funciona como um título do já dito cinema experimental brasileiro, com um reflexo na megalópole que é a cidade de São Paulo e seus problemas que são tão segregados.
O tema de justiça com as próprias mãos pode incomodar parte do público, devido ao desenvolvimento às vezes falho da narrativa e à direção que deixa a desejar em alguns momentos, mas abre um importante precedente para que haja debates e discussões interessantes sobre o assunto.
por Artur Francisco – especial para A Toupeira
*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Boulevard Filmes.
