Crítica: “A Última Invocação”

Embora seja um assunto universal e comum a todas as criaturas, o luto não é exatamente um tema fácil de abordar. Tudo vai depender de crenças, culturas e expectativas que cada um tem frente ao tópico.

Uma dessas variações de comportamento diante da perda de um ente querido surge muito bem representada em “A Última Invocação” (Kinjirareta Asobi / The Forbidden Play), longa japonês de terror sobrenatural, cuja trama escrita por Noriaki Sugihara é uma adaptação do romance de estreia de Shimizu Karma (lançado em 2019), vencedor do principal prêmio do 4th Hon no Sanagi Awards.

Mesmo havendo certo grau de animosidade no ar – devido a acusações passadas de um suposto adultério – Ihara Naoto (Shigeoka Daiki) leva uma vida aparentemente tranquila ao lado da esposa Miyuki (First Summer Uika) e do filho único, Haruto (Minato  Shogaki). Até que um acidente fatal faz tudo mudar.

Sem saber como lidar com a inesperada morte de Miyuki e a responsabilidade de cuidar sozinho de uma criança, Ihara convence o filho de que seria possível trazer a mãe de volta à vida. Para isso, bastaria enterrar um dedo dela no jardim da residência e fazer uma espécie de oração (repetida à exaustão).

Mas, o que deveria ser apenas um artifício para distrair a mente do garoto, mostra-se algo muito mais sombrio, com a descoberta de que elementos malignos estão envolvidos no que seria uma espécie de indevida ressureição.

Isso implica na participação ativa da jovem diretora de vídeo Kurasawa Hiroko (Hashimoto Kann), ex-colega de trabalho de Ihara, que se apaixonou por ele sete anos antes dos acontecimentos vistos na produção. Ela será responsável por grandes e perigosas descobertas do passado de Miyuki, que vão interferir diretamente nessa dolorosa transição entre a vida e a morte.

O público acostumado aos estilos de terror popularizados em Hollywood pode estranhar certas decisões em tela, incluindo as que dizem respeito à representação do sobrenatural. Mas, existe uma beleza, uma distinção, que tornam certos detalhes quase artísticos, como se víssemos uma pintura em movimento.

A opção pelo uso de efeitos práticos é acertada, tal qual sua junção com artifícios digitais (como na percepção dos olhos dos personagens em alguns momentos). De um jeito simples e eficaz, o resultado superou minhas expectativas iniciais.

Sob a direção de Hideo Nakata, “A Última Invocação” é daquele tipo de filme que quando acaba, deixa a vontade de saber mais sobre sua história, o que é sempre muito válido ao se pensar em um título de terror – gênero que costuma render continuações que se equilibram em extremos. Creio ser interessante buscar pela obra original na qual se baseia.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Sato Company.

Filed in: Cinema

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