Crítica: “Ao Cair da Noite”

Apesar de saber que há um público relativamente fiel para esse tipo de trama, sempre me incomodou o fato de determinadas produções serem muito ‘abertas’. A possibilidade de se imaginar as mais diferentes justificativas para fatos apresentados durante a exibição ou mesmo quando percebemos que chegaram os créditos finais e muitas dúvidas ficaram no ar, acabam transformando longas do gênero numa grande incógnita para a maioria (grupo no qual me incluo).

Dirigido e roteirizado por Trey Edwars Shults, “Ao Cair da Noite” (It Comes at Night) é mais um exemplo clássico disso. Acredito ser bem difícil alguém sair impassível da sala de cinema: ou embarca de vez na proposta ou terá uma grande decepção nos 97 minutos de sua duração.

A história nos apresenta Joel Edgerton (Paul), Carmen Ejogo (Sarah) e Travis (Kelvin Harrison Jr.), três componentes de uma família simples, (o quarto elemento já sai de cena logo no início) que vivem em uma casa afastada de todos – literalmente, uma vez que a moradia fica no meio de uma floresta e conta com um grosseiro isolamento interno, criado a partir de tábuas nas portas e janelas – aparentemente à mercê de um mal que estaria à solta.

A “tranquilidade” (ou algo que o valha) do trio é posta à prova com a chegada de Will (Christopher Abbott), um desconhecido que invade o local, supostamente em busca de auxílio para ele, sua esposa Kim (Riley Keough) e seu filho Andrew (Griffin Robert Faulkner). Mas, quando o clima não parece propício para se dizer a verdade, tudo acaba sendo visto com uma desconfiança que beira a paranoia.

O grande problema – pelo menos para mim – é que nunca se sabe de fato o que é esse mal, essa ameaça que espreita. O uso de máscaras de gás nos faz imaginar que seja algo relacionado a uma doença letal, algum problema envolvendo o uso de materiais nucleares, mas não há qualquer explicação que nos indique estarmos no caminho certo ao ter esse pensamento.

Mas e o que isso tem a ver com o perigo que, teoricamente, ronda ao cair da noite? Existe também algo sobrenatural pondo a vida dos protagonistas em risco? Se a resposta for positiva, pouco adiantariam as tais tábuas lacrando as entradas da casa – ou mesmo as máscaras.

Ou seja, dependendo do lado que decidirmos aceitar (o mais lógico ou o que pende para o que envolve a imaginação ou o desconhecido), é como a trama deverá ser encarada. Como se o mesmo filme pudesse ter várias interpretações dentro de si mesmo.

Ainda assim, há de se destacar pontos positivos do longa: a inquietante / eficiente interpretação do elenco, que põe o público para roer as unhas de tensão; o inteligente uso de cenários contidos, que aumentam a sensação de sufoco por aprisionamento; e, principalmente, o fato de não haver nenhum pudor em mostrar como um ser humano pode agir quando posto em situação de risco real (seja para proteger a si próprio ou à vida daqueles que ama). Talvez isso seja o mais brutal no final das contas.

por Angela Debellis

Filed in: Cinema

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