Crítica: “Apenas Nós”

Com uma abordagem dramática sobre questões relacionadas à saúde mental e estabilidade social de uma família britânica, “Apenas Nós” (Two for Joy) tinha tudo para se tornar somente mais um melodrama perdido dentro dos catálogos de serviços de streaming, porém as assombrosas atuações dos protagonistas somadas a um roteiro poderoso fazem com que a película consiga capturar com maestria a silenciosa depressão que assola muitas pessoas, e como tal processo se torna nocivo para sua própria família quando a vítima se recusa a procurar ajuda especializada.

Na trama acompanhamos a família de Violet (Emilia Jones), uma adolescente extremamente responsável que precisa lidar com sua família disfuncional composta por sua mãe Aisha (Samantha Morton), que está sendo acometida por alguma patologia e não consegue encontrar forças para sair da cama, e por seu irmão Troy (Badger Skelton), um adolescente rebelde que acaba acidentalmente se envolvendo em um crime.

Para lidar com mais tranquilidade com suas questões pessoais, ela, a mãe e o irmão se mudam para uma cidade litorânea. Entretanto, em meio à calmaria, novas questões vão começar a assombrar a frágil estabilidade mental dos três, conforme novas figuras vão ingressando na trama.

O desenvolvimento dos personagens é lento apesar de constante, o que torna suas sutis mudanças no decorrer do longa críveis ao espectador. Isso se deve também à atuação de todos os atores em tela, entre os personagens coadjuvantes é preciso destacar a infernal Miranda (interpretada magistralmente por Bella Ramsey), uma garota agressiva e com sérios problemas de comportamento que escondem questões familiares não resolvidas. A atriz consegue causar incômodo ao espectador em boa parte da trama, inclusive quando as próprias questões interiores da personagem são desenvolvidas, Bella Ramsey consegue entregar muito bem o peso que a garota leva dentro de si.

Um dos assuntos mais recorrentes em meio à narrativa é justamente a dificuldade de se lidar com questões familiares, sejam elas por ausência, luto, brigas ou doença. Cada personagem em tela possui seu próprio background que aborda tais questões e, por meio de suas histórias, acabamos vislumbrando na prática como essas situações influenciam diretamente nas estruturas sociais das famílias menos favorecidas financeiramente no Reino Unido.

“Apenas Nós” – que estreia na plataforma de streaming Cinema Virtual – consegue conduzir muito bem um drama familiar sem nunca cair no sentimentalismo dramático, proporcionando uma atmosfera triste e se utilizando das ferramentas narrativas, que somente o cinema consegue oferecer para criar essa ambientação depressiva.

Desde sua fotografia, até a escolha por uma trilha sonora suave e sutil, o filme é uma ótima opção para os cinéfilos que buscam uma boa história calçada em uma dura realidade social e afetiva, possuindo em sua narrativa a dose certa de tristeza, esperança e sobriedade.

por Marcel Melinsk – especial para A Toupeira

*Título assistido via streaming, a convite da Elite Filmes.

Filed in: BD, DVD, Digital

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