Crítica: “As Múmias e o Anel Perdido”

Desde que as animações – em boa parte – passaram a ser vistas como algo mais do que apenas puro lazer (entenda-se transformaram-se em histórias com lições de moral e os mais diversos e válidos – ou não – aprendizados), a sensação é de que algumas pessoas esqueceram que é possível se divertir de maneira simples, e estão sempre esperando por “algo mais”.

Encarar esse mercado exageradamente rigoroso é a missão de “As Múmias e o Anel Perdido” (Mummies). Dirigida por Juan Jesús García Galocha, a animação espanhola conta com uma trama fácil de embarcar desde o início, e, por mais que em certos momentos pareça que vai se render à perigosa fórmula do “ensinamento obrigatório”, ela logo volta para os eixos propostos pelo roteiro de Jordi Gasull e Javier López Barreira.

A história nos apresenta uma espécie de cidade subterrânea, onde habitam dezenas de múmias, que permanecem “vivas”, mesmo após o processo de mumificação. O local bastante próspero faz sua própria leitura dos dias atuais, inclusive no que diz respeito à tecnologia (a cena das crianças e seus celulares é ótima), mas sem perder a essência dos tempos antigos.

A rotina da cidade é quebrada, a partir do cerimonial de escolha do futuro marido da filha única do Faraó (voz de Sean Bean), a Princesa Nefer (voz de Eleanor Tomlinson), de acordo com a decisão de Hathor – a Deusa do Amor. Fãs de séries de ficção científica deverão se empolgar com um determinado elemento primordial para a realização de tal ato.

Por um incidente provocado por seu irmão caçula Sekhem (voz de Santiago Winder), o jovem Thut (voz de Joe Thomas) acaba sendo eleito para assumir a posição de noivo, ainda que tenha fortes convicções a respeito de matrimônios em geral. O popular ex-condutor de bigas se verá em uma grande enrascada, ao perder o tal anel do título da produção, o que dará início a uma inesperada aventura no “Mundo dos Vivos”, mais especificamente, na Inglaterra.

Tuth, Nefer, Sekhem e o pequeno Croc (um adorável filhote de crocodilo mumificado) terão as ruas londrinas como palco para sua busca pela joia perdida, em uma trajetória marcada por canções originais de qualidade surpreendente e diversas experiências que até mesmo porão em dúvida se voltar para seu lugar de origem é o melhor a fazer.

É claro que, como toda boa história, é preciso ter um vilão para equilibrar as coisas. Nesse caso, o papel fica para Lorde Carnaby (voz de Hugh Bonneville), ambicioso arqueólogo que se vê diante da grande oportunidade de sua carreira, ao tentar capturar uma múmia viva para ser a atração principal da mais nova exposição de seu museu.

“As Múmias e o Anel Perdido” não promete além do que pode oferecer e isso faz com que seja tão eficiente. As peças das quais dispõe são suficientes para gerar um resultado repleto de boas sequências e acertos, seja na parte visual que não precisa de muito para ser agradável, na escolha da trilha sonora (da bem-vinda e dançante obviedade de The Bangles, até a surpresa emotiva de Nickelback), ou na sabedoria em tratar de assuntos sérios (como livre arbítrio e pressão familiar) sem transformá-los em pautas insolúveis.

Ao término da exibição (e após uma das melhores e mais honestas decisões criativas que já vi nesse tipo de obra), não há nenhuma reflexão solta no ar, nenhuma chancela de sabedorias que levaremos para a vida. Mas há algo tão valoroso quanto: a sensação de termos passado por bons e divertidos momentos e, às vezes, isso é tudo o que importa.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Warner Bros. Pictures.

Filed in: Cinema

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