Muito se fala do que parece ser a “problemática dos clichês”, seja em qual for o ramo do entretenimento. Mas, quando envolve o gênero terror, o assunto ganha uma dimensão ainda maior, com a sensação de que tudo que podia (seja bom ou não) já foi explorado à exaustão.
Eu sigo com a opinião de que, quando bem realizado, o clichê deixa de ser um dilema, para tornar-se um elemento que pode, inclusive, ajudar a tornar a narrativa mais interessante. Esse é o caso de “Gêmeo Maligno” (The Twin).
Dirigido por Taneli Munstone (que também escreve o texto junto a Aleksi Hyvärinen), o filme (que, além do terror também flerta com o drama) nos conta a história do casal Anthony (Steven Cree) e Rachel Doyle (Teresa Palmer, com a melhor atuação do elenco), que tem que lidar com a perda de Nathan (Tristan Ruggeri), um de seus filhos gêmeos, após um acidente de carro.
Na tentativa de criar uma nova rotina ao lado da criança sobrevivente, Eliott (Tristan Ruggeri), eles tomam uma decisão drástica: sair de Nova York e mudar para um vilarejo na fronteira nordeste da Finlândia, onde Anthony cresceu. O local tem um ar melancólico e misterioso, com um povoado que não mostra ser dos mais receptivos (embora seja exaltado o orgulho que sentem pelo êxito da única obra literária escrita por Anthony, que, por sinal, deseja retomar a carreira de escritor).
Logo percebemos que a cultura local é calcada em preceitos pagãos, com direito a rituais excêntricos (à vista de quem não conhece as tradições). Tal informação começa a conduzir o espectador por caminhos que levam a suposições de que o tema central da produção será voltado ao sobrenatural.
A sensação é amplificada com a repentina mudança de comportamento do pequeno Eliott, que, supostamente, passa a ter contato com o irmão falecido. Seria culpa da casa? Do vilarejo? Da crença dos moradores? De uma entidade pouco amistosa?
Para ajudar a responder essas perguntas, surge Helen (Barbara Marten), uma idosa que, em teoria, através de sonhos, conseguiria enxergar coisas que poderiam dar alguma luz à Rachel, que se mostra mais perdida a cada cena, seja pela manifestação de seu zelo exagerado em relação a Eliott, ao estremecimento de sua relação com o marido ou à impossibilidade de aceitar o falecimento precoce de Nathan.
Em dado momento da produção, fala-se sobre a importância do círculo na cultura local, cujo formato não abre brecha para “imperfeições”. E uma frase me pareceu a mais pertinente: “A única coisa pior do que descobrir a verdade, é aceitá-la”.
Diante disso, os últimos 40 minutos do longa são o que fazem a experiência valer a pena de fato, pois, é a partir desse ponto que várias pontas que pareciam soltas (e até sem sentido) são explicadas com eficácia na trama. Diálogos, objetos, ações, quando vistos por essa nova perspectiva, tiram a impressão de “círculo vicioso”, em que nada avança, para levar a produção a um estágio circular que encontra razão para assim ser.
“Gêmeo Maligno” não é perfeito, mas merece atenção por ter conseguido surpreender – em sua reta final – mesmo sem apresentar nada inédito, graças à combinação de elementos que é suficiente para entregar um resultado geral acima do esperado.
por Angela Debellis
*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Paris Filmes.