Crítica: “Halloween Ends”

“Halloween Ends” é o episódio que fecha a trilogia iniciada em 2018 com “Halloween”, cuja sequência (“Halloween Kills”) chegou aos cinemas em 2021. Mas, muito mais do que concluir essa nova leva de filmes, a produção tem a responsabilidade de entregar um final absoluto para uma das maiores franquias de terror do cinema, que faz parte do imaginário dos fãs do gênero há 44 anos. E essa não é uma missão simples.

A trama se passa quatro anos após os eventos vistos no longa anterior. Michael Myers / The Shape (Nick Castle / James Jude Courtney) nunca mais foi visto, e sua ameaça perene de certa forma cai no esquecimento coletivo. Mas, obviamente, seu nome volta às rodas de conversa durante as festividades do Dia das Bruxas, afinal, psicopatas e suas ações questionáveis costumam render novas teorias e reflexões.

Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) parece menos obcecada com a ideia de acabar com o mal em sua forma mais pura, e agora mora em uma casa comum com sua neta Allyson (Andi Matichak).

Essa aparente tranquilidade é quebrada quando um inesperado evento traz à tona dúvidas sobre a idoneidade de um dos moradores de Haddonfield. Corey Cunningham (Rohan Campbell) é um jovem estudante que trabalha ocasionalmente como babá. Em uma noite de Halloween (é claro), um grave acidente mudará sua vida.

O personagem, inédito até aqui, ganha ares de protagonista durante boa parte da narrativa escrita por Paul Brad Logan, Chris Bernier, Danny McBride e David Gordon Green (que também assume a direção) – o que se amplifica quando se envolve com Allyson e provoca a desconfiança de Laurie, que, em um primeiro instante, parecia inclinada a ajudá-lo a superar seu trauma – digamos que ela é especialista em ferimentos emocionais do passado.

Em comparação ao longa que o antecede, “Halloween Ends”  conta com um ritmo bem menos alucinante, o que pode frustrar quem anseia por duelos emblemáticos (mas que seriam altamente improváveis) desde a primeira cena. Porém, isso é um grande acerto, com a tensão se revelando de modo crescente e angustiante, conforme descobertas (óbvias ou não) são apresentadas em tela.

Se a participação de Myers é menor do que o esperado, ela vale todo o tempo de espera até, de fato, acontecer. Mesmo por baixo da indefectível máscara branca e sem expressão, é notável que o tempo passou para o personagem (são mais de quatro décadas de matança!), o que o torna mais crível e, por consequência, mais amedrontador.

A figura silenciosa – que agora vive nos esgotos da cidade (por que vilões adoram esse tipo de lugar?) – mostra seu poder todas as vezes que aparece. Como é padrão na saga de terror escrita por John Carpenter e Debra Hill, não é preciso um texto complexo, nem um som que não seja o da lâmina de sua faca em ação para deixar o público apreensivo.

Ainda que haja a evidente intenção de conquistar novos fãs, nítida e felizmente, o filme é um grande presente para os admiradores prévios. Em 111 minutos de duração, detalhes são trabalhados com precisão para oferecer uma experiência rica e cheia de nostalgia.

Dos créditos iniciais (com a evolução das abóboras esculpidas ao som do tema composto por John Carpenter, que segue imbatível), ao figurino e corte de cabelo usado por Laurie e partir de determinado ponto, passando por enquadramentos que remetem a momentos clássicos – com direito ao uso de elementos que logo serão reconhecidos. Além, é claro, do slasher sempre tão presente.

Certas decisões poderão dividir a plateia, pelo simples motivo de não haver nada que alcance a unanimidade neste mundo – em especial em tempos nos quais as opiniões fervilham em cada canto (não que isso signifique que haja qualidade em sua maioria). Para mim, as coisas funcionaram de maneira brilhante e muito satisfatória.

Embora pareça (e quem sabe, realmente seja) estranho escrever isso, é difícil dizer adeus a uma história que faz parte de minha trajetória como cinéfila há tantos anos. Ao mesmo tempo, é louvável que uma franquia tenha sido tão longeva.

Impossível dizer o que, ou se virá algo a seguir –  a indústria cinematográfica é capaz de coisas inimagináveis -, mas, como grande fã das obras protagonizadas por Michael e Laurie, eu espero que esta seja a conclusão definitiva.

Afinal, se “Todo Carnaval tem seu Fim”, como afirmava a banda Los Hermanos, talvez todo Dia das Bruxas também tenha (ainda que o mal nunca morra).

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Universal Pictures.

Filed in: Cinema

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