Crítica: “Helena Blavatsky – A Voz do Silêncio”

Existem pessoas que são tão famosas quanto infames. Helena Blavatsky é um exemplo desse aparente paradoxo: a fundadora da Teosofia, movimento esotérico religioso da segunda metade do século XIX, foi fundamental para grandes reformas no hinduísmo e budismo, além do que suas obras influenciam figuras históricas como Tolstoi e Gandhi, enquanto seus feitos paranormais até hoje são vistos com pesadas dúvidas, quando não desmentidos, e seus escritos acumulam polêmicas.

Verdades ou mentiras, fama ou infâmia, a grande verdade é que, sem sombra de dúvidas, ela é uma personagem histórica importante no contexto do fim do século retrasado, com todo o “renascimento” místico que ocorria naquele momento.

E é justamente a vida desta personagem que a peça “Helena Blavatsky – A Voz do Silêncio”, trazida pela organização Nova Acrópole, retrata. Inspirada no livro homônimo de Blavatsky, a obra é um monólogo, cuja personagem principal é a própria mística, discorrendo sobre os mais importantes momentos de sua vida, e as revelações que os acompanhavam.

Uma das singularidades do roteiro, no entanto, é o fator didático: a peça apresenta de maneira clara a biografia da autora, em particular os momentos de viradas em sua vida, assim como as ideias que ela pregava. Isso, no entanto, tem muito a ver com a proposta da instituição Nova Acrópole, que se orgulha em oferecer vários cursos de assuntos ligados à filosofia e esoterismo, e que tem como um dos influenciadores teóricos Helena Blavatsky.

Por sua vez, a qualidade da peça não está só no seu roteiro, mas também na atuação, figurino, cenário e iluminação. Beth Zalcman, como Madame Blavatsky, tem uma atuação bem intimista, trabalhando bem as expressões, sem grandes exageros que não combinariam no contexto e roteiro da peça, e também merece elogios o fato de se adaptar bem ao contexto “via streaming” ou “remoto”, imposto pela pandemia, de maneira que não perde em nada para ao vivo.

A ideia intimista, e um tanto minimalista, também se reflete em outros aspectos além da atuação: o cenário é único, uma mesa, uma cadeira, e poucos objetos de cena a mais; a iluminação se resume a uma luz ambiente, um holofote e a luz de velas; e por fim o figurino é apenas um. Apesar de parecerem simplórias estas escolhas, seu uso não poderia ser mais adequado, conseguindo retratar vários momentos e locais diferentes com pouco, de maneira que todo um universo se desenrola desses esparsos materiais.

Para quem se interessa por questões esotéricas e por monólogos, a peça é muito recomendada. Mesmo para os que não, pode ser uma forma de começar a conhecer mais sobre esses temas ou essa técnica.

“Helena Blavatsky – A Voz do Silêncio” está disponível através de streaming com acesso pela plataforma Sympla, até 30 de março.

por Ícaro Marques – especial para A Toupeira

Filed in: De tudo um pouco, Teatro

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