Crítica: “Morte a Pinochet”

Um brevíssimo resumo histórico sobre o Chile: Nesse país, entre 1970 e 1973, houve uma luta política intensa, que o dividiu, basicamente, entre dois setores: a direita e a esquerda. Primeiro foi o triunfo nas eleições nacionais de Salvador Allende, candidato socialista que, depois, já desde a presidência, iniciou uma série de reformas sociais. A oposição reagiu de diversas maneiras, com atentados, greves e variadas ações de protesta.

O confronto só acabou quando os militares, no dia 11 de setembro de 1973, encabeçados pelo general Pinochet, deram um golpe de estado que derrocou a Allende. O governo militar fechou o Congresso e foi fortemente ditatorial. Isso continuou até 1981, quando teve que deixar o governo ao perder um plebiscito decisivo.

Com relação a todo o anterior há muito material fílmico prévio (“La batalla de Chile”, “Acta general de Chile”, “Fernando ha vuelto”, “No!”, “El Club”, entre outros; incluso o italiano “Santiago, Italia”, visto no Brasil em 2019). Nesta ocasião, há um enfoque bastante diferente dos anteriores, embora “Morte a Pinochet” não seja favorável ao militar.

A diferença está justamente em abordar um episódio guerrilheiro, neste caso, acontecido no dia 07 de setembro de 1986, ou seja, 15 anos depois da sua saída da presidência. Relata-se o atentado que efetuou o grupo denominado “Frente Patriótico Manuel Rodríguez” contra Pinochet, suas motivações, preparativos, execução e consequências.

Está dirigido por Juan Ignacio Sabatini, debutante em longas-metragens, sendo um comunicador audiovisual, profissional bastante típico no Chile. Segundo diz no início, trata-se de um “Filme de ficção inspirado em fatos reais publicamente conhecidos” e nos créditos finais “Inspirado na crônica literária ‘Los fusileros: Crónica de una guerrilla en Chile’, de Juan Cristóbal Peña.

Cabe comentar que, cinematograficamente, tudo isso tem peso relativo. O que sim, pode importar, é como são narrados tais fatos. Que nunca serão exatamente reproduzidos, mas podem dar lugar a obras feitas de modo bom, regular ou ruim.

De toda maneira, nesta oportunidade, mais que em outros títulos equivalentes, se mostram aspectos mais pessoais daqueles que realizaram o atentado. Também isso pode trazer algumas ressalvas em setores do público.

Quando um filme “humaniza” um personagem ou grupo histórico polêmico, inevitavelmente haverá aqueles que fiquem a favor e outros em contra. Por exemplo, ainda que com uma posição oposta ao caso que nos ocupa agora, isso já aconteceu, com “A Queda”, que, embora não favorável, mostrava Hitler, o chefe nazista, com algumas características diferentes das que se lhe atribuem habitualmente.

Aqui, há aproximações à vida de Cecilia, a protagonista (integrante dessa organização com o nome de Tamara), na sua condição de filha, amiga e mãe. Por causa do intento de modificar o sistema social vigente, ela abandona tudo – inclusive aquelas pessoas próximas. Segundo ela disse, como mulher gostaria de ter filhos, amar, viver em liberdade.

Também há afirmações românticas: “Às vezes se pode escutar uma canção de amor no zumbido das balas”. E declarações ideológicas: “Não se pode enfrentar sem armas, um regime que as utiliza para manter-se”. “Sacudamos a nada com nossos gritos”. Ou, a máxima: “Vamos matar (a) Pinochet!”. Essa última pode soar como inocente, ilusória, destemida ou realmente decidida. Mais uma vez, aqui pode depender do espectador, o caráter que adquirirá tal manifestação.

Os personagens consideram atentar contra o ex-ditador como “um ato de amor, um reviver ao (ex-presidente) Allende, que resistiu aos militares golpistas”. Para eles, segundo este relato, “vale a pena morrer por matar a Pinochet”. Deve-se escrever a história desta maneira.

Como se sabe historicamente, o atentado não teve um final feliz. “Morte a Pinochet” é uma realização sem grande orçamento, quase rústica. E produzirá rejeição na parte conservadora que, por outra parte, muito provavelmente, não a assistirá. Porém, está bem relatada e pode atrair setores de público mais propensos a transformações avançadas da sociedade.

por Tomás Allen – especial para A Toupeira

*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela A2 Filmes.

Filed in: Cinema

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