Crítica: “No Fio da Navalha”

“No Fio da Navalha” (By a Sharp Knife) é uma boa realização eslovaca sobre um caso policial e sua problemática continuidade nos âmbitos judiciais. A morte de um jovem estudante em mãos de neonazistas é seu motivo central. Os pais ficam consternados com a notícia e, além da tristeza, tentam entender qual o motivo do crime e, em especial, que os autores sejam identificados e castigados.

Além das difíceis relações familiares, principalmente causadas pelo caráter rígido e despótico do pai, a investigação iniciada pela polícia e paralelamente realizada por esse homem, não resulta simples.

Aliás, os conflitos da família serão apenas uma parte dos problemas. A polícia tem seus próprios métodos e objetivos. E a Justiça caminha de modo nada claro. A gangue de assassinos tem integrantes perigosos e de alto nível econômico; vai utilizar todo tipo de artimanhas para eludir ser castigada.

No percurso que o pai vai fazendo para esclarecer o acontecido, vão se sucedendo os obstáculos, incoerências dos textos legais e interpretações polêmicas deles. Há um desfile de pessoas e personagens de diversas esferas, cumprindo papéis cruéis, outras vezes desonestos e, na maioria das ocasiões, interesseiros ou contraditórios.

Há um clima dramático, denso. O espectador pode identificar-se com as vítimas (mãe, pai, irmã, outros familiares e até colegas). E, também, procurar entender a causa do assassinato: o jovem sai da casa à noite e é esfaqueado: Era inocente ou traficante de drogas? Seria homossexual? Ativista de esquerda? Havia saído, simplesmente, para caminhar e fugir do clima de opressão na casa e poder pensar como concretizar seus planos de vida futura? Ou, até: teria tendências suicidas?

Por outra parte: a Justiça é realmente justa? Seus integrantes são nobres, ou sua condição humana lhes impede de atuar clara e honestamente? Embora não perfeitos, procuram ser equânimes? Ou, pelo contrário, sucumbem diante de suas próprias limitações, vaidades, ambição, corrupção?

“No Fio da Navalha”, que estreia na plataforma de streaming Cinema Virtual, é interessante, e os assuntos que aborda são densos. Embora presentes em inúmeros títulos cinematográficos anteriores, aqui estão bem elaborados. Por momentos, traz sentimento de revolta perante a impotência dos mecanismos sociais para obter justiça. Assim mesmo, há algumas situações de muita tensão para o espectador, que pode se identificar com o medo que os pais têm com relação à segurança da irmã mais nova do rapaz morto.

Porém, nem tudo é negativo: o pai pode mostrar-se sensível e não só durão, alguns vínculos serem restabelecidos; e a esperança, em muitos sentidos, pode reaparecer. O relato tem passagens muito tenras. Há beleza em muitas das relações pessoais e nas emoções dos personagens.

Também a fotografia (de Denisa Buranová) é bela, e explora a cidade de Bratislava, em especial o rio Danúbio e o longo Ponte Novo. Mas seus 430 metros de extensão, embora famosos como cartão postal da capital da Eslováquia, não aparecem aqui só por serem bonitos, mas por estarem vinculados ao consumo de drogas. Uma mostra mais que a produção não é unívoca, e enfatiza tanto o bom quanto o ruim.

 As atuações dos experientes Roman Luknár e Ela Lehotská, e da menina Ela Stefunková são corretas. Há uma música apreciável no final e a edição não desentoa. Com direção e roteiro de Teodor Kuhn, em seu segundo longa-metragem, repetimos: “No Fio da Navalha” é um bom filme eslovaco.

por Tomás Allen – especial para A Toupeira

*Título assistido via streaming, a convite da Elite Filmes.

Filed in: BD, DVD, Digital

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