Crítica: “O Exorcista: O Devoto”

Embora Terror seja um dos meus gêneros cinematográficos favoritos e eu consuma muito conteúdo relacionado, tomei a decisão de nunca assistir a um dos títulos mais aclamados da história: “O Exorcista”, por razões que não cabem nesse texto.

Lançado em 1973, sob a direção de William Friedkin, o indicado a dez estatuetas do Oscar (e vencedor em duas categorias) até hoje mantém uma legião fiel (e crescente) de fãs que o definem como um marco do gênero, e serve como comparação para todo e qualquer material que tenha como mote possessões demoníacas.

Isso, por sei só, já seria um problema para as produções lançadas depois do longa estrelado por Linda Blair (intérprete da garota possuída mais famosa da história, Regan MacNeil), mas há mais um agravante: “O Exorcista: O Devoto” (The Exorcist: Believer) foi anunciado como uma sequência direta do clássico original, o que fez com que todos os holofotes e expectativas fossem direcionados a ele, de maneira bastante incisiva – e, até mesmo, injusta.

Sendo o mais direta possível: se o filme fosse lançado com qualquer outro nome e sem nenhuma menção que pudesse vinculá-lo a “O Exorcista”, é provável que teria uma recepção melhor, uma vez que, quando se trata de histórias de possessão, até dá para inovar em algum detalhe, mas, no geral, todas acabam entregando resultados semelhantes.

Iniciada em Porto Príncipe / Haiti, a trama nos apresenta Sorenne (Tracey Graves), que, durante uma viagem de férias com seu marido Victor Fielding (Leslie Odom Jr.) acaba tendo seu parto prematuro e se tornando vítima de um terremoto no local.

Após um salto de treze anos (com acontecimentos agora passados no estado americano da Geórgia), vemos Angela (Lidya Jewett), que se embrenha em uma floresta – ambiente quase onipresente em obras de terror – a fim de realizar uma espécie de sessão espírita, na tentativa de entrar em contato com sua mãe. Para isso, conta com a ajuda da amiga Katherine (Olivia Marcum).

Obviamente, algo dá muito errado e as garotas passam três dias desaparecidas. Após uma incessante busca por parte de seus familiares e polícia, elas são encontradas a cinquenta quilômetros do ponto incial, com ferimentos inexplicáveis e sem nenhuma recordação do que aconteceu nesse período.

Mas, o que parece ser uma apenas amnésia pós-traumática logo se mostra algo bem pior, quando as jovens começam a ter comportamentos agressivos e demonstram estar sob o domínio de alguma entidade do mal.

Como sempre é mais fácil creditar esse tipo de coisa a um desvio mental, do que cogitar a possibilidade de haver mistérios desconhecidos para o ser humano, seguem-se diagnósticos de problemas psicológicos que em nada ajudam a reverter o quadro.

Até que as descrenças são, em parte, colocadas de lado, e é quando o longa ganha força. A participação de Ellen Burstyn (como Chris MacNeil) deve empolgar os fãs da produção que completa 50 anos em 2023, mas reforça a lembrança de que este lançamento é (ou, pelo menos, deveria ser) uma sequência, o que acaba não sendo tão favorável.

Sem o peso da fidelidade que os fãs – no geral – exigem, a sensação que tenho é a de que “O Exorcista: O Devoto” pode ser colocado no mesmo patamar de tantos outros títulos que reproduzem rituais de exorcismo, seja no cinema ou TV.

Quem gosta do tema terá à disposição os principais elementos que compõem as cerimônias, com direito a uma maquiagem que não compromete na maior parte do tempo – mas com um CGI que surge deslocado e desnecessário, ainda mais quando efeitos práticos parecem tão promissores.

E, por mais que o viés do politicamente correto possa ter sido um fator decisivo nessa escolha, a opção por mostrar outros ritos (que não apenas o quase sempre utilizado, cristão) é uma bem-vinda adição ao roteiro escrito por Peter Sattler, Scott Teems e Danny McBride (além de David Gordon Green, que também assume a função de diretor).

Anunciado para ser a primeira parte de uma trilogia (cujo segundo capítulo, “The Exorcist: Deceiver” – “O Exorcista: O Enganador”, em tradução literal – com previsão de estreia para 2025), “O Exorcista: O Devoto” sofre do mal de ter imaginado que precisava se escorar em um sucesso prévio, para tornar-se relevante. Talvez uma crença maior em sua capacidade tivesse sido mais impactante.

por Angela Debellis

*Título assistido em Sessão Regular de Cinema.

Filed in: Cinema

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