Fora as cada vez menos frequentes exceções, parecemos viver em um loop gerado por costumes que nos limitam a encarar um trabalho que não nos satisfaz. A isso, muitas vezes somam-se relacionamentos fadados ao fracasso, cuja existência torna-se uma sombra do que realmente desejamos. Alguns são “premiados” com esse combo completo. Guilherme Assis é uma dessas pessoas.
Interpretado por Fábio Porchat (que também escreve o roteiro junto à Cláudia Jouvin), o protagonista de “O Palestrante” leva uma vida sem brilho. No mesmo dia em que é demitido da empresa onde trabalha como contador (subordinado ao chefe sem noção, cuja qualidade das piadas é algo a ser estudado), ele é abandonado por sua noiva Luciana (Letícia Lima).
Não era o emprego dos sonhos e seu relacionamento parecia uma via de mão única, mas, para alguém preso a uma rotina maçante e sem perspectivas, tais mudanças drásticas causam uma verdadeira revolução. Graças a uma falha de comunicação, Guilherme é convocado para uma viagem à unidade da empresa localizada no Rio de Janeiro para uma reunião. Pelo menos esse era o plano inicial.
Cansado de ser manipulado por tudo e todos, ao chegar a solo carioca (e após uma esclarecedora conversa com o passageiro do outro lado do corredor do avião – Manoel, vivido por Evandro Mesquita), ele toma a decisão de se passar por outra pessoa. A ideia surge ao visualizar uma desconhecida no saguão do aeroporto à espera de alguém chamado Marcelo Gonçalves – identidade que toma para si, sem fazer nenhuma ideia do que isso poderia causar.
Sob a justificativa de haver muitos homônimos – o que a leva a nunca ter visto uma foto real de quem esperava descer do voo -, Denise (Dani Calabresa) acredita quando Guilherme se apresenta como Marcelo. Logo descobrimos que ela é proprietária de uma empresa do ramo elétrico e criadora da (duvidosa) tomada de três pinos. Detestada pelos funcionários (graças a decisões injustas à primeira vista), ela contrata os serviços de um coach, para ministrar palestras motivacionais à equipe hospedada em um hotel na região serrana de Itaipava.
O que significa que Guilherme – que, por mais de uma vez assume não saber mentir – terá não só que fingir ser quem não é, mas convencer os outros a aceitarem a si próprios com seus defeitos e virtudes. Resultado: uma sucessão de equívocos que, de acordo pelo ângulo que são vistos, parece fazer parte de um pacote vip de encorajamento (brega, mas eficaz).
Embora sem grandes surpresas (como manda a cartilha das comédias românticas em geral), “O Palestrante” ganha a plateia através da sinceridade com que mostra o desenrolar da trama em tela. É fácil para o espectador se identificar com algum personagem ou situação.
Boa parte do mérito se dá devido à imensa competência do elenco e geral, com todos tendo seu momento de brilhar e dando sua contribuição à narrativa. Otávio Müller, Paulo Vieira, Miá Mello, Maria Clara Gueiros, Antônio Tabet e Rodrigo Pandolfo são os elementos que movimentarão os dias reservados para a dinâmica motivacional, com personalidades distintas e histórias relevantes o bastante para contar com nossa torcida por uma continuação (seja como sequência para o cinema, ou série para streaming).
Ao trazer um humor que visa atingir vários tipos de público, o longa dirigido por Marcelo Antunes consegue manter-se divertido do início ao fim, sem a necessidade de apelar para polêmicas ou assuntos datados – recursos tão banalizados em dias atuais.
Vale muito conferir!
por Angela Debellis
*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Downtown Filmes.