Crítica: “O Primeiro Dia da Minha Vida”

Importante: Em caso de pensamentos suicidas, procure ajuda. O Centro de Valorização da Vida (188) está disponível 24 horas por telefone e no seguinte horário por chat: Domingo das 17h à 01h. Segunda a Quinta 09h à 01h; Sexta das 15h às 23h; Sábado das 16h à 01h.

Muito se fala sobre clichês na indústria do entretenimento (inclusive já citei esse mesmo tema em outros textos), mas a verdade é que nossa vida é o maior clichê de todos. Independe de quem somos, de onde viemos ou o que conquistamos (material ou emocionalmente falando) em nossa trajetória sobre a terra, o enredo é basicamente o mesmo: Nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos. Pouco importa o quanto esse roteiro pareça desgastado, ele segue inflexível.

Dito isto, o maior acerto da narrativa de “O Primeiro Dia da Minha Vida” (Il Primo Giorno della mia Vitta / The First Day of my Life) é não se preocupar com o que pode parecer (e talvez tenha mesmo sido) exaustivamente visto em obras anteriores, conseguindo reutilizar ideias simples, mas que funcionam quando bem aplicadas.

O longa italiano é baseado no livro homônimo de Paolo Genovese (também à frente da direção e roteiro) e gira em torno da inesperada junção de quatro recém-suicidas: a policial Arianna (Margherita Bruy), a ex-ginasta olímpica Emília (Sara Serraioco), o coach comportamental Napoleone (Valerio Mastrandea) e o jovem youtuber Daniele (Gabriele Cristini).

O encontro entre eles se dá através da aparição de um personagem sem nome – chamado apenas de “Homem” (Toni Servillo). Sem levantar nenhuma bandeira religiosa, é possível dizer que tal figura pode fazer as vezes de um anjo, um mentor espiritual, ou qualquer outro elemento que sirva para trazer algum tipo de conforto a quem não vê mais sentido em continuar vivendo.

A história passada em Roma tem como principal cenário um hotel de aparência antiga, que, com a total ausência de funcionários, ganha ares de desativado (embora todos seus ambientes estejam em perfeitas condições de uso). É lá que, o agora quarteto, terá uma espécie de nova chance, a partir da proposta de Homem: por sete dias, ele tentará convencê-los a encontrar motivos fortes para não tirarem suas vidas.

Para isso, iremos acompanhá-los em suas jornadas de (re)descobrimento nesse espaço entre a vida e morte, quando a balança muitas vezes parece inclinar-se para finais dolorosos. Saberemos as razões que levaram cada um a chegar a seu limite, e a melhor maneira de aproveitar tal experiência é nela embarcar sem nenhum senso de julgamento ou crítica, apenas como espectadores que assistem às dores alheias e se veem colocando em xeque as próprias mazelas.

De acordo com a bagagem emocional do público, é viável afirmar que cada história tem seu potencial específico para emocionar. Assim como também parece justo dizer que algumas se sobressaem no que diz respeito à comoção que causam.

“O Primeiro Dia da Minha Vida” tem cenas emblemáticas, que oferecem reflexões necessárias (mesmo que parte da plateia não assuma tal fato). E, ao sair da sessão, uma frase em especial seguiu ressoando em meus pensamentos, até o ponto em que eu a coloquei em prática em um novo – e promissor – capítulo de minha história (o que já é significativo o bastante, para mim): “Você não vai cancelar a dor. Vai dar a ela um propósito”.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Pandora Filmes.

Filed in: Cinema

You might like:

Crítica: “Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2” Crítica: “Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2”
Crítica: “Rivais” Crítica: “Rivais”
Crítica: “Plano 75” Crítica: “Plano 75”
Crítica: “La Chimera” Crítica: “La Chimera”
© AToupeira. All rights reserved. XHTML / CSS Valid.
Proudly designed by Theme Junkie.