Crítica: “O Urso do Pó Branco”

Andrew Thornton, um ex-policial – que se tornou narcotraficante – está em rota de entrega de uma remessa de quarenta pacotes de cocaína (avaliada em R$ 290 milhões) para o quartel colombiano, quando se vê obrigado a liberar a carga em uma reserva florestal.

Logo após o feito, ele salta do avião – com alguns pacotes remanescentes presos ao corpo – seu paraquedas falha e ele morre. Assim como um urso preto que vivia no local e, na inocência típica dos animais, come uma considerável quantidade da droga e sofre um ataque cardíaco fulminante.

Talvez essa trama absurda fosse forte candidata ao Oscar de Roteiro Original, se não fosse por um único porém: a história, de fato, aconteceu em 1985, no estado americano da Geórgia – que também serve de palco para “O Urso do Pó Branco” (Cocaine Bear), inacreditável adaptação que chega aos cinemas sob a direção de Elizabeth Banks, a partir do roteiro de Jimmy Warden.

Ao contrário dos acontecimentos reais, dessa vez o tal urso não morre de overdose imediatamente, mas acaba se viciando, após o inesperado contato com a droga. O que significa que o comportamento habitual da espécie – que, sabiamente, prefere evitar contato com humanos – dá lugar a uma série de ações drásticas que incluem várias mortes de personagens – com direito a mergulhar no bom e velho gore, afinal, nada melhor do que fazer jorrar sangue na tela para representar tais (merecidos) ataques.

Se o urso (interpretado por Allan Henry, com a finalização de próteses e computação gráfica – bem convincente na maior parte do tempo), obviamente – é a estrela, é preciso ter o apoio de um elenco humano para validar a ação.

E o que vemos em tela são figuras que vão da mãe zelosa Sari (Keri Russell) ao inconformado recém-viúvo Eddie (Alden Ehrenreich), passando pelo traficante “boa praça” (se é que isso existe), Daveed (O’Shea Jackson Jr.) e pela guarda florestal com hormônios em ebulição, Liz (Margo Martindale). O longa é o último trabalho de Ray Liotta, que faleceu em maio de 2022 – o ator interpreta Syd, chefão do narcotráfico sem nenhum traquejo familiar.

A ação engrena quando os amigos Dee-Dee (Brooklyn Prince) e Henry (Christian Convery) resolvem matar aula para se aventurar nas cachoeiras da tal floresta onde se desenrola a narrativa. Tal decisão tem tudo para acabar mal quando encontram um dos pacotes descartados pelo malfadado piloto e atraem a atenção do urso que anseia em tê-lo em sua posse.

São várias histórias paralelas que, em comum, tem a figura do urso e a carga de cocaína, seja pelo medo de perder algum ente querido / a própria vida / o emprego. E todas, sem exceção, só funcionam por esses motivos.

Com tantos personagens simultâneos e aleatórios, o destaque fica para o detetive Bob (papel de Isiah Whilock Jr., que arrasa em todas as cenas em que aparece e cuja interação com uma certa figurinha é, no mínimo, adorável).

Por falar em adorável, assim também é o protagonista peludo que, mais do que um recente usuário de drogas, continua sendo um urso que, pelo menos na vida real, só se torna algo a se temer, em casos extremos (ou seja, quando os seres humanos passam dos limites do bom senso).

Esse comportamento dúbio é bem visível desde o início, durante uma rapidíssima cena envolvendo o animal imenso e uma pequenina borboleta – assim como outras que serão fáceis de identificar no decorrer da obra.

É difícil classificar “O Urso do Pó Branco” em alguma categoria única, uma vez que a produção conta com sequências típicas de vários estilos: ação, comédia, terror gore e até mesmo pequenos fragmentos de drama, que serão mais perceptíveis para os amantes dos animais.

Por fim, cabe salientar a imensa qualidade da trilha sonora que conta com clássicos oitentistas como “Jane”, da banda Jefferson Starship e “I just can’t get enough” de Depeche Mode (esta ouvida em uma das melhores sequências do filme).

Vale conferir.

por Angela Debellis

*Título assistido em sessão regular de cinema.

Filed in: Cinema

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