Crítica: “Podres de Ricos”

Ao vermos um elenco (excepcional, diga-se de passagem) majoritariamente composto por atores e atrizes de origem asiática, é de se imaginar que esse seria o maior destaque de “Podres de Ricos” (Crazy Rich Asians). A princípio, realmente é, mas com o desenvolvimento da narrativa, fica claro que este é um entre tantos acertos do longa dirigido por John M. Cho.

Comédias românticas não costumam prometer roteiros inesquecíveis ou complexos, e é em sua simplicidade de levar o amor – e suas consequências – às telonas, que elas conseguem conquistar um público bastante fiel.

Dessa vez, o casal é formado por Rachel Chu (Constance Wu) e Nick Young (Henry Golding). Ela, uma professora de economia em Nova York, descendente de chineses, mas nascida em solo americano; ele, membro da mais tradicional – entenda-se muito rica e influente – família de Singapura, mas que optou por uma vida mais próxima do “normal” na Big Apple, com direito a compartilhamento de senha da Netflix, o que hoje em dia é sinal de muito amor / amizade.

Quando Nick é convidado para ser padrinho de seu melhor amigo, ele e Rachel embarcarão em uma viagem por milhares de quilômetros para sua cidade natal, todos percorridos na primeira classe de um avião que já dá a deixa de quanto dinheiro estamos falando. E essa será a oportunidade (perfeita?) de apresentar sua namorada à família.

Ainda que no final das contas, pouco importem as demais convenções quando há amor de verdade, é impossível não se surpreender com o choque causado não só pela discrepância da condição econômica de Rachel diante da família Young, mas também por causa de tradições que passam por gerações há décadas. Sem esconder sua insatisfação, a mãe do protagonista, Eleanor (Michelle Yeoh), surge como uma personagem repleta de camadas – ainda que faça de tudo para que só o exterior que interessa seja visto pelos outros.

A parte cômica mais relevante é a que conta com a participação de Peik Lin (Awkwafina), colega da época de faculdade de Rachel. Com um jeito nada discreto de se portar e a sinceridade de uma criança que fala o que vem à cabeça, ela consegue divertir os espectadores sem esforço. Destaque para o fato de seu pai Wye Mon ser interpretado por Ken Jeong, o que significa boas risadas também.

Ainda que sua história não esteja no centro das atenções, uma das personagens que mais me agradou foi Astrid Leong-Teo (Gemma Chan), prima de Nick. Quando se tem tanto dinheiro à disposição e glamour passa a ser sua marca registrada, parece que a vida será fácil em todas as vertentes, mas entre quatro paredes é que se vê a realidade que as câmeras de smartphones e postagens em redes sociais escondem.

Sobre a tal riqueza exorbitante que o título prega, ela é realmente “escandalosa”. Em certos momentos, me peguei rindo de nervoso no cinema, ao ver tamanha ostentação inacreditável. E por ostentação, não pense em “apenas” carros de luxo ou roupas de grife: nesse caso, as cifras ficam na casa de US$ 40 milhões gastos na tal cerimônia de casamento, motivo da viagem do casal – que por sinal é maravilhosa.

É muito interessante ver como as pessoas se portam diante das mesmas oportunidades. Há quem se preocupe com a unidade das tradições que correm o risco de desaparecer se não tiverem força para serem passadas adiante; quem enxergue o sobrenome da família como a primeira coisa a ser considerada em uma apresentação; e quem saiba que poderá usufruir o melhor da vida, sem que para isso perca sua singularidade e maneira de pensar. Pois é, uma comédia romântica cheia de reflexões.

Curiosidade: Em épocas em que os custos das produções ajudam a ditar sua relevância no mercado, a verdadeira riqueza começa no fato do longa ter custado “apenas” US$ 30 milhões – um número baixo para os padrões atuais. Além disso, os direitos de produção do filme foram vendidos por Kevin Kwan, autor do livro homônimo no qual se baseia, por apenas 1 dólar. Já fica a torcida para que os outros volumes da trilogia também sejam adaptados de maneira tão primorosa.

Imperdível.

por Angela Debellis

Filed in: Cinema

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