Crítica: “Ruim pra Cachorro”

A menos que você não goste de cachorros (aí, eu nem sei o motivo de estar lendo esse texto), é provável que, ao pensar em cãezinhos, as primeiras coisas que vêm à sua cabeça sejam lealdade, companheirismo e fofura. O que está absolutamente certo (não importa a raça ou o porte).

Desse modo, a proposta de “Ruim pra Cachorro” (Strays), de trazer um elenco canino desbocado e sem o menor pudor, poderia ser problemática. A boa notícia é que está bem longe disso.

Reggie (voz de Will Ferrell / Wendell Bezerra) é um adorável border terrier adotado ainda bebê por Doug (Will Forte), homem execrável – em todos os sentidos – que não gosta de animais, mas queria agradar a namorada.

Em seus dois anos de vida, nosso pequeno protagonista viveu um relacionamento doentio e injusto, no qual ele era a parte que se dedicava, enquanto o humano era quem não merecia nada de bom a ele direcionado. Até que Reggie é cruelmente abandonado (embora demore para ter certeza das intenções de seu ex-tutor – como nós, quando relutamos em enxergar verdades que nos machucam).

Sua rotina nas ruas incluirá inúmeras descobertas e o encontro de novos e sinceros amigos: o boston terrier Bug (voz de Jamie Foxx / Fábio Rabin), a pastora australiana Maggie (voz de Isla Fisher / Bruna Louise) e o dogue alemão Hunter (voz de Randall Park).

O que começa como uma tentativa de voltar para a casa do homem que nunca o acolheu como deveria, logo ganha contornos de (uma muito justa) vingança, cujo plano culminaria na extirpação do órgão genital de Doug.

Obviamente, o viés da comédia dá o tom à obra dirigida por Josh Greenbaum, com uma grande dose de palavras de baixo calão e cenas no limite do explícito. Mas, por mais surpreendente que pareça, é impossível falar sobre todas as camadas do roteiro de Dan Perrault.

Quem convive com cachorros sabe o quanto tal possibilidade engrandece nossas vidas e como dói pensar na quantidade de animais que, como Reggie e Bug, são descartados (muitos, sem nunca mais encontrar um lar, passando o resto de seus dias nas ruas ou em abrigos superlotados).

Entre tanto o que há para se destacar, a participação relâmpago de Dennis Quaid (interprendo ele mesmo), veterano em produções “caninas” – o ator tem seu sua filmografia as belíssimas adaptações cinematográficas de “Quatro Vidas de um Cachorro” e “Juntos Para Sempre”. E o banquete de cogumelos na floresta, que faz uso de diversos recursos visuais divertidíssimos.

Mas, talvez a sequência mais impactante seja a que mostra o quanto os animais são inocentes, quando se veem diante do que não conhecem / entendem (nesse caso, fogos de artifício, artefatos que seguem fazendo vítimas de várias espécies, na vida real). A vontade era de entrar na tela e protegê-los a todo custo.

A sessão para imprensa exibiu a versão em português do longa e há de se aplaudir a qualidade da dublagem, aqui, sob a direção de Wendell Bezerra. Em especial, no que diz respeito à inteligente adaptação do conteúdo original, para que as piadas funcionem com o público brasileiro.

“Ruim pra Cachorro” tem um dos finais mais satisfatórios que eu já vi. O que é tão impensável, quanto maravilhoso. Tal qual as histórias que temos chance de escrever quando abrimos nossos corações para a adoção de um animal.

A verdade é que tem muita gente nesse mundo que deveria conversar com o rato (assista ao filme e entenderá!).

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Universal Pictures.

Dicas para quem quiser ajudar:

O Projeto Cão Sem Fome é uma ONG que assiste centenas de cãezinhos no estado de São Paulo. Mesmo se você não puder adotar, é possível fazer doações que ajudam na compra de casinhas, vacinas, ração, entre outros itens.

O Casa do Vira-Lata é um perfil criado para resgate e auxílio na adoção de cães e gatos em São Paulo. É possível ajudar de forma mensal ou com doações esporádicas.

O Cantinho do Chiquinho é um perfil que também resgata e reabilita animais para futuras adoções em São Paulo. É possível ajudar com as despesas de alguns resgatados que vivem em hoteizinhos (até encontrarem um lar para chamar de seu).

A Maternidade Vênus é um projeto recente que visa o resgate de cachorras e gatas prenhas, em situação de vulnerabilidade em São Paulo.

Mas, há dezenas de ONGs e abrigos pelo Brasil precisando de ajuda para manter seus trabalhos. Procure alguma com a qual tenha mais identificação e ajude a dar qualidade de vida para animais que buscam uma família.

Filed in: Cinema

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