Crítica: “Sete Minutos Depois da Meia-Noite”

diamond_seteminutosdepoisdameianoite_poster-criticaÉ possível mensurar a real qualidade de uma obra (seja filme, livro, peça teatral ou qualquer produção do ramo de entretenimento), quando após seu término, os sentimentos que ela nos provocou continuam fortes em nossas mentes.

Ao assistir a “Sete Minutos Depois da Meia-Noite” (A Monster Calls), eu pouco sabia sobre seu contexto, além do que havia visto nos trailers divulgados. Queria me deixar envolver por completo por todas as cenas, conforme fossem apresentadas.

Esse envolvimento é bastante natural desde o início da adaptação dirigida por Juan Antonio Bayona, quando conhecemos a história de Conor O’Malley (Lewis MacDougall, muito seguro no papel), um jovem de 13 anos, que apesar da pouca idade tem que enfrentar momentos traumáticos e que afetarão sua vida de maneira irremediável. Sua mãe Lizzie (Felicity Jones, em interpretação brilhante) está com câncer em fase terminal e não há mais tratamentos possíveis de serem feitos.

Para completar a infelicidade do protagonista, ele sofre com o inaceitável bullying diário na escola e tem um pai ausente (Toby Kebbell) – que mora em outro país com sua nova família. Além disso, não vê com bons olhos a possibilidade de ter que morar futuramente com a avó materna (Sigourney Weaver, em atuação digna de prêmios).

Mas, como fugir de uma realidade tão cruel? Através do caminho mais eficiente e que sempre parece disponível a todos que nele quiserem / precisarem seguir: a imaginação. Dentro de sua própria cabeça é o palco para a aparição de um personagem absolutamente incrível, uma espécie de monstro em forma de “Homem–Árvore” (voz do sempre competente Liam Neeson).

A criatura surge com uma proposta, no mínimo, inusitada: contar três histórias para Conor, com a condição de que uma quarta seja contada pelo garoto, que deve ter como único tema sua própria verdade (aquela que todos carregamos dentro de nós, mas que em raras situações é apresentada aos outros. A que nos faz, em certos momentos, sentir até mesmo vergonha por tê-la em nossos pensamentos, mas que não conseguimos negar de fato).

Diferente do livro no qual o filme é baseado, em que os contos são narrados logo após a aparição de uma espécie de névoa, na tela, eles são lindamente representados por delicadas aquarelas – o que faz muito sentido de acordo com fatos da vida do garoto e sua mãe. São sequências de encher os olhos por conseguirem unir a beleza das pinturas à força de seus conteúdos.

Com a emoção dando o tom, o longa consegue emocionar e surpreender do começo ao fim, assim como a obra original – escrita por Patrick Ness, com base na ideia inicial de Siobhan Dowd, que faleceu de câncer antes de concluir seu trabalho. Destaque para a sequência final – que não aparece no livro, mas encerra de maneira ainda mais contundente a narrativa.

Sou naturalmente emotiva e fiquei impressionada  ao ver a reação de alguns colegas jornalistas que estavam na mesma sala de cinema que eu. Pessoas que nunca me pareceram capazes de sentir empatia pelo outro, de se deixar levar por uma história comovente, após os créditos finais, saíram em silêncio, em nítido momento de reflexão. Talvez o “chamado do monstro” tenha tido um efeito maior sobre elas do que poderiam imaginar.

Imperdível.

por Angela Debellis

Filed in: Cinema

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