Com dezenas de títulos já feitos, “Filmes de Tubarão” quase podem ser considerados um gênero próprio, uma vez que parecem seguir uma cartilha básica para contar histórias com o temível animal como protagonista.
Um desses elementos que se mostram onipresentes, é a escolha de personagens humanos que dificilmente ganham a simpatia dos espectadores – o que acaba facilitando a vida do público que não precisa pensar muito para decidir por qual lado vai torcer.
A mais nova produção a tratar sobre o assunto é “Tubarão: Mar de Sangue” (Shark Bait). Escrita por Nick Saltrese, a trama simples e objetiva (e que se resolve em apenas 85 minutos) acontece em uma praia no México e mostra um grupo de amigos americanos que passa seu último período de férias de verão juntos, antes da conclusão da faculdade.
Sob a premissa de que a fase das responsabilidades adultas está chegando, o quinteto formado por Nat (Holly Earl), Milly (Catherine Hannay), Tom (Jack Trueman), Tyler (Malachi Pullar-Latchman) e Greg (Thomas Flynn) se acha no direito de agir de maneira bastante problemática no que diz respeito ao cumprimento de leis e ao mínimo de bom senso que se espera de quem vive em sociedade.
Entre os vários erros cometidos, eles decidem pegar sem autorização, jet-skis que são alugados para turistas. A brincadeira culmina na péssima ideia de “tirar um racha” no meio do mar, o que causa o acidente que será responsável por todas as tribulações que veremos em tela.
Da fratura exposta em uma perna – que serve como óbvio chamariz para o predador aquático – a uma pessoa que não sabe nadar (mas se dispõe a ir para o meio do mar, após uma ressaca da noite anterior), enquanto outra se deixa levar pela lábia dos outros (sem saber se impor), são vários detalhes que nos fazem torcer pelo fracasso dos jovens.
Mas nada é pior do que a falha de caráter, que fica ainda mais visível depois de horas à deriva, quando segredos (bem claros para quem vê o filme, desde as cenas iniciais) vêm à tona. Ou seja, não há nada que faça com que não sejam ótimos – e justos – candidatos a virar jantar.
O maior acerto de “Tubarão: Mar de Sangue” se dá por sua bem executada dualidade: o filme dirigido por James Nunn se passa quase totalmente em um cenário amplo (o mar), mas com um recurso físico muito restrito (um jet-ski quebrado). O pouco espaço seguro que os personagens têm, parece cada vez menor diante do crescente risco por falta de líquidos – embora estejam cercados por água. A bússola moral que faz com que se defenda alguém que não merece perdão é posta à prova, quando diante de um perigo maior.
Também vale destacar o incômodo (eficiente) que o incessante balanço do mar provoca em quem acompanha a história e a boa decisão em fazer várias tomadas sob a perspectiva do tubarão, quando este espreita suas pretensas vítimas.
Os instantes finais do longa enveredam por um caminho que merece fácil o título de uma das coisas mais absurdas do ano. Em dado momento, é possível ter a sensação de que o eixo será retomado, porém, logo percebemos que isso não vai acontecer.
Mas, dentro de uma proposta que já teve tornados de tubarões e animais com múltiplas cabeças, até que a pouca inventividade de “Tubarão: Mar de Sangue” se sai como bem “normal”.
por Angela Debellis
*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Paris Filmes.