Crítica: “Veneza”

Desde que deixou a Globo em 2020, após 40 anos de trabalho na casa, Miguel Falabella passou a focar sua dedicação em projetos mais autorais, e uma dessas várias empreitadas em que o profissional multitarefas investiu seu talento foi no filme “Veneza”, que adapta com maestria a peça do argentino Jorge Accame para a linguagem brasileira, inserindo várias metáforas e problemas sociais da cultura local.

Na trama, acompanhamos a idosa Gringa (Carmen Maura), que é dona de um bordel e sonha em reencontrar seu amado Giácomo na cidade italiana de Veneza antes de morrer, entretanto, o custo da viagem é bastante elevado.

Mas Rita (Dira Paes), a gerente do Bordel e Tonho (Eduardo Moscovis), o ‘faz- tudo’ do local prometem proporcionar essa experiência à velha cafetina e buscam a melhor forma possível de realizar esse sonho dentro da situação precária em que vivem.

Dentre toda a filmografia em que Miguel Falabella atuou como diretor, “Veneza” é, de longe, seu trabalho mais bonito e maduro. O filme é uma verdadeira ode à arte como um todo, sendo construído com uma narrativa que nos lembra de obras cinematográficas europeias de diretores consagrados como Fellini e Almodóvar

Ainda assim, o longa transborda brasilidade nas formas de arte que se propõe a homenagear: em destaque, podemos citar o circo que tem papel importantíssimo no longa e é retratado como uma das típicas versões itinerantes vistas com tanta frequência pelo interior do Brasil.

O elenco também se mostra impecável, sendo que alguns personagens engrandecem a narrativa principal ao protagonizar tramas paralelas que nos ajudam a conhecer um pouco mais da personalidade de cada figura e também explorar a cultura da região onde a história é ambientada. Esse aspecto consegue trabalhar com bastante peso questões de extrema importância como o machismo e a homofobia.

A estética é outro ponto que deve ser exaltado: o longa consegue explorar muito bem a linguagem do cinema, sem deixar o espectador esquecer que tal narrativa foi construída como uma peça de teatro. A escolha das cores vivas e da ambientação interiorana faz com que a película de fato pareça uma dramatização circense.

Podemos dizer com segurança que “Veneza” merece todas as premiações possíveis se estabelecendo não só como uma das melhores produções exibidas em 2021, mas também um dos melhores exemplos do que o carinho à arte pode produzir dentro do cinema nacional.

por Marcel Melinski – especial para A Toupeira

*Título assistido via streaming, a convite da Imagem Filmes.

Filed in: Cinema

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