Crítica: “Venom: Tempo de Carnificina”

Definir a personalidade de um personagem fictício pode parecer fácil, afinal, ele é cria da imaginação de alguém que pode fazer as alterações que julgar necessárias. Mas, e quando a intenção é uma e a recepção é outra?

É o caso de Venom, cuja primeira aparição em revistas se deu em 1984, criado para ser integrante da imensa – e ótima – galeria de vilões do Homem-Aranha, mas que acabou ganhando a simpatia do público até tornar-se o que se chama de “anti-herói”, ou seja, aquele antagonista pelo qual não há grandes problemas em se ter uma dose de simpatia.

Com o (surpreendente?) êxito de seu primeiro filme solo, lançado em 2018 – que rendeu mais de US$ 850 milhões em bilheteria – era questão de tempo até que o simbionte alienígena desse as caras em uma nova aventura nas telonas. Talvez não do jeito que muitos gostariam (entenda-se com a apresentação de violência gráfica), mas de uma maneira que, mesmo sendo mais “subjetiva” – devido à decisão de se diminuir a faixa etária indicada – ainda consegue manter-se interessante.

“Venom: Tempo de Carnificina” (Venom: Let there be Carnage) traz Tom Hardy reprisando o papel de Eddie Brock, que transforma no receptáculo “oficial” de Venom, já que a criatura não consegue passar muito tempo em outros corpos, sem matar os hospedeiros.

Com o término do relacionamento de Eddie e Anne Weying (Michelle Williams), a relação mais próxima do jornalista é, justamente, com Venom. A dinâmica entre os dois lembra o que pode haver de melhor em uma amizade, daquelas em que não precisamos “pisar em ovos” e podemos ser nós mesmos (coisa cada vez mais rara em dias atuais).

Tal fato pode parecer estranho à primeira vista, principalmente para quem espera pelo que seria uma obra “tradicional” de sobre um vilão de quadrinhos. Mas, uma vez que se compra a ideia do roteiro de Kelly Marcel (com a colaboração de Tom Hardy), é difícil não gostar do que se vê em 98 minutos de duração – esta, talvez seja minha única ressalva, pois gostaria que a produção fosse um pouco mais extensa, até mesmo para haver um maior desenvolvimento da narrativa.

Por falar em história, o papel de antagonista (no sentido literal da palavra) cabe ao tal Carnificina do título, que, assim como Venom, também é um simbionte que precisa de um hospedeiro para se manter ativo. O “escolhido” é Cletus Kasady (Woody Harrelson), serial killer condenado à execução na cadeira elétrica, que vê sua realidade mudar com a improvável fusão.

Na falta de um herói propriamente dito, quem melhor para combater um vilão, do que outro semelhante? É isso que define o ritmo do filme dirigido por Andy Serkis, quando temos Venom assumindo a função de “Protetor Letal” (título este também conhecido nos quadrinhos e livros), para impedir o outro alienígena de cometer, adivinhe: uma carnificina.

Muito provavelmente devido à curta duração, tudo acontece de modo frenético, mas nem por isso, menos eficiente. Dá para se divertir com a sequência passada em uma festa (com direito a discurso de um Venom magoado com certas atitudes de Eddie), assim como é possível ficar aflito com as ações tomadas por Cletus, ao realizar o resgate de Frances Barrison (conhecida nos quadrinhos como Shriek e interpretada por Naomie Harris), interna de um laboratório governamental, devido a sua perigosa capacidade de absorver os sons ao redor e transformá-los em gritos supersônicos.

Os efeitos especiais de “Venom: Tempo de Carnificina” dão conta do recado e as cenas de lutas entre os simbiontes são empolgantes (não cheguei a ver o longa nos cinemas, mas, mesmo na TV achei que o resultado é bem bacana).

Sem contar que, em mais uma jogada de mestre, a Marvel mostra que sabe o que faz, e entrega uma das cenas pós-créditos mais legais dos últimos tempos, cujo gancho pode indicar várias possibilidades dentro do universo criado pela produtora que fez dos icônicos personagens de quadrinhos, um das mais rentáveis fontes de lucro nos cinemas.

Vale muito a pena conferir.

por Angela Debellis

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*Título assistido via streaming, a convite da Sony Pictures Home Entertaiment.

Filed in: BD, DVD, Digital

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