Nós conversamos com o diretor e roteirista Fernando Ueahara, que, ao lado de Marcos A. R. Alves e Luz César Arashiro é responsável pelo curta-metragem de animação brasileiro “Música das Esferas: Mimi e o Baú Mágico” – já disponível no canal no YouTube e, futuramente, no site oficial do projeto (www.musicadasesferas.art.br).
A Toupeira: Qual o objetivo com a escolha do título “Música das Esferas”? Numa rápida pesquisa pela web, encontramos diversos sites com publicações com este título, de Pitágoras a livro de crônicas. Como atingir o objetivo do projeto em meio a tantas publicações?
Fernando Uehara: De fato, o título da obra tem tudo a ver com as teorias dos antigos. Cunhado pelos gregos, o termo refere-se à ideia de que havia uma harmonia matemática regida no cosmos. Pitágoras trouxe o conhecimento de que havia uma relação entre a música e a matemática. Ou seja, é um termo que faz parte deste universo científico, matemático.
Embora a nossa obra seja uma animação infantil, escolhemos o título justamente porque há por trás dela todo um trabalho sonoro baseado em teoria musical: as melodias, as quintas, terças… a parte teórica da musica está lá, expressa em som. Acreditamos que é uma maneira de sensibilizar e passar essa informação de forma lúdica, divertida, para as crianças.
AT: A intenção do projeto é levar espontaneamente crianças a “uma escuta atenta e sensível”. Com esta declaração, entende-se que o elemento principal do curta é a música. Diante disso, pode-se afirmar que a música existe antes do roteiro? Em caso afirmativo, seguirão por este caminho?
FU: Não, o roteiro foi elaborado pensando nesses conceitos musicais e a música (a trilha sonora) completa essa narrativa. Ela completa o desenho e vice-versa. Podemos afirmar que a narrativa só se faz compreensível com a fusão das duas coisas, não podem ser dissociadas.
No processo criativo desta obra, o roteiro e os desenhos foram criados primeiro e logo na sequência a trilha foi elaborada. Mas a música tem o espaço pra expressar as suas variações, a sua “cor”.
Desta maneira, ela é fundamental para contar a história. E é esse caminho que seguiremos: o fundo sempre terá uma teoria a ser retratada na música, tons maiores ou menores, terças e quintas, alturas, etc…
AT: O que os levou a escolher um gato preto para protagonizar o curta? Foi aleatório ou por alguma experiência pessoal? Qual a simbologia dessa escolha?
FU: O gateiro da equipe sou eu (risos)… Mas a escolha da cor foi mais determinada por um motivo do efeito gráfico: sendo preto, ele se contrasta melhor e acaba se destacando mais entre outras criaturas e também no colorido da animação. Lembrando que as outras personagens importantes como Lalá (sua tutora) e Godofredo (avô de Lalá) têm cores definidas e marcantes (verde e roxa, respectivamente), já as outras pessoas aparecem transparentes.
AT: Com a possibilidade de se tornar uma série, “Música das Esferas” seguirá com Mimi e o Baú Mágico? Ou serão explorados outros personagens e situações?
FU: “Mimi e o Baú Mágico” é uma introdução, uma apresentação dos planetas e de alguns personagens que serão melhor explorados, na possibilidade de “Musica das Esferas” se tornar uma série.
Temos a intenção de contar a história com Lalá se aventurando com seu gato Mimi e também apresentar melhor quem é Godofredo que, pra nós, é a chave de todo esse conhecimento musical.
Instrumentista e grande conhecedor da música, ele é o dono do baú mágico (por onde Mimi fez sua primeira viagem) e vai introduzir sua neta para o mundo musical, fazendo despertar nela a curiosidade pela música, conhecer melhor a música brasileira e os nossos grandes mestres que, na animação, “são de outro planeta”.
AT: Além da idealização da série, quais os próximos passos de “Música das Esferas: Mimi e o Baú Mágico”?
FU: Estamos trabalhando pra buscar fundos para desenvolver a série e poder veicular na TV Cultura. Em breve, estará no ar o site do projeto com uma navegação imersiva, com links para baixar uma cartilha de atividades e, futuramente, outras mídias, como uma contação de histórias (o E-shibai, inspirado nas contações de histórias japonesas chamadas de “Kamishibai”) e também games.
por Carlos Marroco – especial para A Toupeira