“O Beijo no Asfalto” reestreia no Teatro Itália Bandeirantes

Um dos maiores legados do teatro rodrigueano, “O Beijo no Asfalto” ganha nova temporada na capital paulista. Com direção de Bruno Perillo, a peça ocupa o palco de um dos cartões postais de São Paulo, o Edifício Itália, onde está instalado o Teatro Itália Bandeirantes. As sessões são somente às quartas-feiras, de 1º de março a 26 de abril de 2023, sempre às 21h – os ingressos custam R$ 30 e R$ 60.

Embora escrita em um Rio de Janeiro de 60 anos atrás, a peça ressurge mais atual do que nunca. Nelson Rodrigues expõe, de modo único, o terror que se alastra por uma sociedade diante de um singelo fato.

Dois homens se beijaram na boca, em plena Praça da Bandeira. A beleza do gesto e o horror da sociedade diante dele se chocam, criando uma peça tão explosiva e cruel quanto poética e profunda.

Essa montagem, dirigida por Bruno Perillo, estreou em outubro de 2019, no Sesc Santo André, e depois seguiu em temporada no espaço Núcleo Experimental. A ideia é, a partir do texto – já tantas vezes revisitado por inúmeros artistas – realizar uma radiografia da dramaturgia, investigando as raízes dos acontecimentos que se abatem sobre os personagens e as suas questões num Brasil atual.

Arandir catalisa em si tudo o que resta de vida humana, em seu sentido simbólico mais poético e fraterno possível. É após um beijo na boca em um homem atropelado e prestes a morrer que o protagonista passa de mera testemunha de um acidente a acusado de um crime.

O texto ágil, potente e fracionado, é ação. A ação, por sua vez, é diálogo. Tudo principia em decorrência do tal beijo dado em plena rua, diante de muitas testemunhas e centenas de transeuntes.

“Não há, por assim dizer, necessidade alguma de se estabelecer no palco qualquer espécie de formalização cenográfica real. Pelo contrário, trabalhamos no sentido de conceber um campo simbólico para todo o desenrolar da trama, como se tudo ocorresse num espaço público, mesmo quando privado”, conta Bruno Perillo.

A ação dramática se avoluma a cada fala, a cada quadro, e se torna auto suficiente, na medida em que se atinge a enorme autenticidade contida nas falas. Aos poucos, elas revelam o deserto interior de cada um dos personagens (em contraposição a Arandir).

O elenco permanece quase o tempo todo no palco, seja no foco da cena, seja compondo imagens em relação ao foco, mas nunca passivamente (sempre como um grande olhar externo julgador).

Os objetos cênicos assumem diversas posições e funções ao longo da montagem. A alegoria do “rolo compressor” – que alisa o asfalto, mas que remete a um enquadramento da sociedade, e também à rotativa, a máquina que imprime os jornais – é uma imagem que aparece de várias maneiras nas cenas.

As interpretações expõem, no limite, o jogo bárbaro da manipulação, em contraponto ao que vamos chamar de campo poético da existência. Como num raio X, o objetivo é explicitar as entranhas desta dramaturgia, sem subterfúgios, e sem qualquer traço de caricatura.

O texto de Nelson Rodrigues

“O Beijo no Asfalto” talvez seja o maior legado do teatro rodrigueano ao poder do mundo midiático e todos os seus ilimitados desdobramentos, sua relação com o homem, suas consequências, sua moral, sua ética.

A notícia de que um homem beijou outro homem na boca, no meio da rua, no centro da grande cidade, é o suficiente para servir de célula para disseminar uma tragédia.

“Nossa busca, enquanto artistas e cidadãos, é a tentativa de reverter a cegueira cotidiana, rígida e impermeável (que nos faz sucumbir ao aniquilamento da poesia, do amor) e propor outros olhares possíveis para aquilo que nos cerca. Em que momento passamos a ser regidos pelas notícias e opiniões ao redor? Em que lugar ficou a nossa capacidade de reflexão e discernimento, de empatia e sensibilidade?”, levanta Bruno.

O personagem Amado Ribeiro, o repórter, por sua vez, é o grande catalisador da tragédia. Ele é o rei das manchetes, o homem que domina o talento mais cafajeste numa sociedade. É imprescindível que se veja no palco esta figura de um jeito cru, no que ele tem de mais nocivo e sórdido; e não da maneira em que costumeiramente vemos os canalhas, “maquiados”.

O nosso mundo só lê manchetes. As manchetes são basicamente aquilo que o nosso mundo é, no aqui e no agora do hoje. Todas as redes ditas sociais são gigantes canalizadores e reprodutores de manchetes e/ou “notícias”, e das mais infinitas opiniões, e junto a isso, enxurradas de fake news.

Sinopse

Um atropelamento. Um homem cai no asfalto, em plena Praça da Bandeira, Rio de Janeiro. Na sua agonia, pede um beijo a outro homem que correu em seu auxílio. O beijo acontece, o atropelado morre, a multidão ao redor testemunhou.

A partir desse acontecimento, uma tragédia se desenrola. O beijo no asfalto desmascara, com visceralidade, as raízes da sociedade brasileira, suas características, vícios e estigmas mais profundos.

Serviço:

O Beijo no Asfalto

De 1º de março a 26 de abril. Sessões às quartas-feiras às 21h

Teatro Itália Bandeirantes

Avenida Ipiranga, 344 – Edifício Itália – Subsolo, São Paulo – SP

Ingressos – R$ 60,00 (inteira); R$ 30,00 (meia: estudante, servidor de escola pública, + 60 anos, aposentados e pessoas com deficiência) pela plataforma Sympla

Telefone de informações: (11) 3131-4262

Instagram: @teatroitaliaband

da Redação A Toupeira

Filed in: Teatro

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