Era uma vez um reino muito próspero e feliz, mas que foi amaldiçoado e onde um membro da realeza caiu em sono profundo ao completar 16 anos e furar o dedo em um fuso. Para manter sua vida em suspensão (evitando a morte imediata), um feitiço fez com que todos adormecessem até que um beijo de amor verdadeiro quebrasse a maldição.
Você pode até conhecer essa história, mas a maneira inédita como Leslie Vedder a conta em sua obra de estreia, faz com que se torne uma das quais mais originais a que tive acesso nos últimos tempos.
Em “A Maldição do Fuso”, lançamento da Editora Melhoramentos, somos conduzidos às terras de Andar, reino no qual o herdeiro ao trono Briar Rose torna-se vítima da maldade da chamada Bruxa dos Fusos.
Um século se passa entre a batalha entre as quatro bruxas que conduziam a corte real e o adormecimento encantado não apenas do jovem príncipe, mas de toda a população local, até que a destemida caça-tesouros Filore Nenroa torne-se parte desta história e assuma o papel daquela que vai colocar um ponto final na maldição.
O conteúdo oferecido aos leitores em 328 páginas é cativante desde o primeiro capítulo. Filore (ou simplesmente, “Fi”) combina elementos díspares que a tornam uma figura muito rica em nuances: da aventureira à filha amorosa que se preocupa com o bem estar dos pais (ainda que, para isso, tenha que colocar sua própria felicidade em risco). Da garota que não acredita no amor (graças a uma triste experiência vivida com um ex-namorado) a alguém que lentamente se deixa envolver por sentimentos genuínos.
Junto a ela, conhecemos Shane, outra corajosa caçadora de tesouros que deixa o passado nobre para trás, em busca de uma vida que pareça mais adequada a seus anseios. Garotas bonitas, artefatos valiosos e seu fiel machado de guerra são suas paixões.
Para concluir a missão de salvar Briar Rose e o reino de Andar, a dupla enfrentará vários perigos, seja na forma de desafios misteriosos (que muito me lembraram os famosos escapes games, cujo êxito em sair das salas de fuga implica na resolução dos mais diversos enigmas) ou da perigosa ação dos Caça-Bruxas que não hesitam em exterminar quem se coloca em seu caminho.
É gratificante ver a progressão dos personagens em “A Maldição do Fuso”. Conforme sabemos mais de suas histórias prévias, conseguimos entender suas atitudes atuais e nos tornamos mais próximos de cada um. Se o protagonismo fica a cargo de Fi, Shane e Briar Rose, ainda há espaço para coadjuvantes interessantes como o Bruxo do Papel, cujas características fizeram com que se rapidamente se tornasse o meu preferido.
A história torna-se ainda melhor graças à qualidade da escrita de Leslie Vedder. Com uma narrativa repleta de detalhes – como era de se esperar em uma obra que tem a fantasia como tema principal – havia o perigo do texto se tornar cansativo, mas isso não acontece, pelo contrário.
Todas as descrições – de pessoas, locais, situações – são tão eficientes, que confesso, por várias vezes, ter me sentido capaz de sentir o aroma de rosas que acompanha Briar Rose cada vez que este foi citado no livro.
A edição lançada pela Editora Melhoramentos conta com capa flexível e orelhas. A aplicação em dourado no título dá um ar de nobreza, assim como pede a história. As páginas amareladas têm ótima textura e a fonte é de tamanho adequado para proporcionar uma leitura agradável, que pode ser realizada por várias horas sem cansaço visual.
A tradução de Sofia Soter conseguiu manter a riqueza de informações e expressões do texto original e a revisão de Laila Guilherme e Vivian Miwa Matsushita é primorosa, não havendo problemas com a grafia – o que sempre contribui, pelo menos no meu caso, com uma imersão maior na trama.
Para quem busca por um fascinante livro de fantasia ou para aqueles que preferem uma boa aventura, a dica é aproveitar a surpreendente mescla dos assuntos e conhecer “A Maldição do Fuso”.
Crédito das fotos: Angela Debellis.
por Angela Debellis
*Livro cedido pela Editora Melhoramentos.