Fica impossível conter a ansiedade diante de mais uma edição das Graphic Novel MSP (essa é a 24ª). Quando foram anunciados o título e a capa de “Tina – Respeito”, algumas pessoas fizeram um “barulhinho do mal” através de comentários cerceados de ódio, porém com uma proporção muito maior os “barulhos do bem” foram surgindo, e consequentemente as expectativas só aumentaram.
O selo Graphic MSP foi criado em 2009 e permite que personagens que até então eram considerados infantis dialoguem com jovens e adultos. Não obstante, continua falando claramente com crianças e adolescentes e possibilita que assuntos “mais delicados” sejam abordados, como o racismo em “Jeremias – Pele” ou a perda de quem amamos em “Chico Bento – Arvorada”.
Em “Tina – Respeito” vemos a protagonista Tina aos 22 anos, recém-formada, indo trabalhar incansavelmente na redação de um jornal conceituado – trabalhando, morando sozinha e dando seus primeiros passos rumo a vida adulta. Uma história sobre mulheres, escrita por uma mulher e para outras mulheres, – não excluindo a necessidade de atingir o público masculino – mas na HQ, Fefê Torquato aponta situações corriqueiras enfrentadas no universo feminino.
A quadrinista usa e abusa de todo seu talento com traços únicos pintados em aquarela, quadros cheios de detalhes e referências, não só ao universo criado por Mauricio de Sousa como ao mundo externo, o nosso mundo.
Outro ponto positivo é a forma com que os rostos e expressões faciais são retratados: é possível traduzir o que os personagens – especialmente Tina – estão sentindo somente ao olhar para cada um. Além disso, Fefê resgata a Tina em suas origens, por meio de alusões diretas e indiretas à personagem nos primórdios de sua criação.
A naturalidade espantosa com que são desenvolvidos temas como a gordofobia, o machismo e o assédio deve ser ressaltada: em momento algum a leitura se torna agressiva ou maçante. E muito diferente do que foi deduzido por uma pequena parcela de pessoas, Tina não é uma garota subversiva, é de tamanha delicadeza e honra, que em alguns momentos é impossível não se emocionar.
A graphic reforça relações familiares – em especial entre protagonista e sua mãe – e deixa evidente a onda crescente de sororidade que atinge as mulheres. E se engana quem pensa que só porque Tina cresceu e mora sozinha que não verá Pipa e Rolo nesta história: eles estão presentes e lindos – Pipa um pouco mais presente.
Então é isso, Fefê conseguiu por meio de uma história simples, com roteiro repleto de situações corriqueiras, tocar em diversas feridas que ainda são um tabu para muitas pessoas, tornando didático e compreensível um tema tão delicado que é o assédio e não deixando de fora outros assuntos que são de extrema urgência e relevância. Fica difícil não se sentir representado (a) em algum momento.
Lembrando que os exemplares estão disponíveis nas versões com capa cartonada e capa dura, e podem ser adquiridos em lojas on-line e físicas.
por Carla Mendes – especial para A Toupeira