Crítica: “1917”

Muitas obras – sejam cinematográficas ou literárias – já foram criadas tendo como cerne as guerras e todas suas cruéis vertentes. Várias marcaram época, ganharam prêmios e deram real importância ao gênero, tão complicado e ao mesmo tempo tão importante.

“1917” (1917) chega para imprimir seu nome entre os grandes títulos. Com a fantástica ideia de contar uma história através da simulação de um plano-sequência único, o longa consegue transportar os espectadores para dentro de um cenário desolador e impensável, de maneira realista e impacta do início ao fim.

A trama se passa durante a 1ª Guerra Mundial e mostra dois soldados britânicos, Schofield (George MacKay) e Blake (Dean-Charles Chapman), que são convocados a cumprir uma missão tão inesperada quanto, à primeira vista, impossível: atravessar a linha que os separa dos inimigos – neste caso representados pelo bárbaro exército alemão – a fim de impedir que haja um ataque que levaria cerca de 1600 soldados ingleses diretamente para uma armadilha fatal.

É através dos olhos da dupla que percorremos cada detalhe da impressionante ambientação, o que significa que muitos elementos (importantes, diga-se de passagem) poderão ser incômodos para os espectadores mais sensíveis. Não há beleza ou doçura em um campo de guerra; não há piedade ou respeito. Com a iminência da morte pairando sobre cada um, tudo acaba ganhando ares desesperançosos – e isso é amplificado através da exibição em uma tela grande.

O conjunto da obra dirigida por Sam Mendes é daqueles que têm a capacidade de provocar as mais diversas reações na plateia. Em 119 minutos, junto a Schofield e Blake, tememos pelas vidas de tantos que veem suas rotinas ceifadas pela convocação militar; choramos perdas, torcemos por êxitos, ficamos indignados pela sempre crescente capacidade humana de ferir seus semelhantes sem nenhum arrependimento.

A interpretação da dupla de protagonistas é impecável. Não é difícil de acreditar naquela amizade que consegue se manter forte, ainda que haja tantas dificuldades. Assim como é acalentadora a percepção de que, uma palavra quando empenhada, pode ser muito mais válida do que qualquer documento.

Entre muitas cenas a serem destacadas, há uma que consegue resumir em apenas um diálogo, a dualidade de um mundo que comporta, ao mesmo tempo, os horrores provocados por uma guerra e o encanto que a natureza insiste em oferecer, mesmo diante de tanta dor. Foi nessa “sequência das cerejeiras” que eu saí pensando da sala de cinema e é graças a ela que eu agora choro enquanto escrevo esse texto.

Com prêmios já conquistados – entre eles, o Globo de Ouro nas categorias Melhor Filme de Drama e Melhor Diretor – além de 10 indicações ao Oscar, o filme é magnífico e muito bem-sucedido ao ter sucesso em duas frentes distintas: agradar quem espera um primoroso trabalho técnico e provocar necessárias reflexões em quem se importa mais com a história em si.

Imperdível.

por Angela Debellis

*Filme assistido durante Cabine de Imprensa promovida pela Universal Pictures.

Filed in: Cinema

You might like:

Direto da Toca: Assistimos ao musical “Hairspray” Direto da Toca: Assistimos ao musical “Hairspray”
Público infantojuvenil tem espaço garantido no Festival do Rio Público infantojuvenil tem espaço garantido no Festival do Rio
Beco do Batman, em São Paulo, ganha mural deslumbrante com personagens de “Coringa: Delírio a Dois” Beco do Batman, em São Paulo, ganha mural deslumbrante com personagens de “Coringa: Delírio a Dois”
HyperX marca presença no Brasil Game Show 2024 com lançamentos exclusivos HyperX marca presença no Brasil Game Show 2024 com lançamentos exclusivos
© AToupeira. All rights reserved. XHTML / CSS Valid.
Proudly designed by Theme Junkie.