Crítica: “A Festa”

Sempre imaginei que festas são reuniões em que vários universos particulares decidem se colidir por conta própria. São histórias, experiências, peculiaridades que formam o conteúdo dos encontros e acabam definindo o rumo que os mesmos vão tomar.

Logo que ouvi os primeiros e inconfundíveis acordes da clássica “Bad to the Bone”, em uma das cenas iniciais de “A Festa” (The Party), torci para que o longa fosse tão surpreendente quanto a escolha da canção e, felizmente, logo deu para perceber que tal torcida se fez válida, porque surpresas e reviravoltas estão presentes durante toda a projeção.

A tal festa do título acontece para comemorar a escolha de Janet (Kristin Scott Thomas), membro de um pequeno partido progressista, para o cargo de Ministra da Saúde na Inglaterra. Enquanto a homenageada passa boa parte do tempo na cozinha, atendendo telefonemas de felicitações e fazendo iguarias, a sala de sua casa torna-se o palco principal da ação.

São poucos os convidados para a recepção, o que faz com que cada um tenha mais tempo para ser descoberto em cena. Com menos personagens, há maior possibilidade de se definir o papel que cada um terá no resultado final e com isso acabam se aproximando do público, que se pega na posição daquele que, ainda que de maneira discreta, quer saber sobre todas as conversas paralelas recheadas de confidências que parecem tão triviais nesse tipo de evento.

No papel de April, melhor amiga de Janet, Patricia Clarkson consegue se destacar de maneira natural e brilhante. Com tiradas tão ácidas quanto inteligentes / verdadeiras, ela entrega ao público um dos personagens mais interessantes dos últimos tempos.

Entre os conflitos passados durante os 71 minutos de duração do filme, há o medo das mudanças que uma gravidez de trigêmeos vai provocar na relação do casal vivido por Martha (Cherry Jones) e Jinny (Emily Mortimer); as inesperadas contradições que a vida confortável, mas atingida através de métodos questionáveis, pode carregar consigo – questionamentos que ficam a cargo de Tom (Cillian Murphy); a efemeridade da existência e tudo que tal fato pode trazer de consequências a todos à sua volta – tema que permeia as atuações de Timothy Spall (como Bill) e Bruno Ganz (como o divertido Gottfried, que por sinal, faz par justamente com April).

Sob a direção de Sally Potter, a produção em preto e branco deve surpreender boa parte dos espectadores por conter vários elementos de qualidade, que vão das atuações ao próprio roteiro, que se mostra bem sucedido quando a intenção é mostrar que, há (muito) mais por trás dos famigerados sorrisinhos amarelos, tão típicos de qualquer boa e velha festa.

Vale conferir.

por Angela Debellis

Filed in: Cinema

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