Com uma narrativa cadenciada que remete aos filmes clássicos de investigação Noire, “Dente por Dente” se mostra uma produção nacional ousada, porque foge dos gêneros os quais o cinema nacional costuma retratar. Porém, seu ritmo lento pode servir como um impedimento e afastar aqueles que buscam uma narrativa mais direta.
Na trama acompanhamos Ademar (Juliano Cazarré), que é sócio de uma empresa de segurança particular contratada por uma grande construtora em São Paulo. Em meio a sonhos assustadores envolvendo dentes, Ademar descobre que seu sócio Teixeira (Paulo Tiefenthaler) foi assassinado.
Ao investigar mais a fundo esse evento junto à mulher de Teixeira, Joana (Paolla Oliveira), ele se vê envolvido em uma conspiração criminosa, e quanto mais se aproxima da verdade, mais tem sua vida sendo colocada em risco.
O suspense do filme é construído criativamente intercalando ameaças de origem mundana, com os assustadores sonhos que o protagonista tem envolvendo dentes. Esse detalhe inclusive faz referência a uma conhecida crença brasileira que afirma que quando alguém sonha com dente, quer dizer que alguém próximo vai morrer.
Entretanto, a tentativa de emular o estilo de investigação Noire, inserindo uma narrativa em “Off” e investindo em um ritmo mais cadenciado, acaba jogando contra o longa. Mesmo não sendo uma película muito grande, a investigação que faz a trama andar perde seu fôlego em muitos momentos ao focar demais no suspense e não entregar respostas que instiguem o espectador a querer saber mais do contexto.
Um ponto interessante que está inserido na história é a sutil crítica social contra a prática de especulação imobiliária, gentrificação promovida por empreiteiras na cidade de São Paulo. Também há uma denúncia sobre como os movimentos que buscam moradia, como por exemplo, o Movimento Sem Teto de São Paulo, são marginalizados e muitas vezes negligenciados pela polícia quando são atacados.
Se tem algo que “Dente por Dente” merece mérito é por sua ousadia em tentar construir um filme de investigação nacional com elementos sobrenaturais. Esse de fato é um grande ponto positivo para a produção, porém, seu ritmo lento, infelizmente, torna em muitos momentos a experiência cansativa. Ainda assim, vale a pena conferir uma obra tão atípica para os padrões do cenário nacional.
por Marcel Melinski – especial para A Toupeira
*Título assistido em Cabine Virtual promovida pela Vitrine Filmes.