Crítica: “Gato de Botas 2: O Último Pedido”

De tempos em tempos, uma reflexão de meu autor favorito volta à minha mente: “Um dia você será velho o bastante para voltar a ler contos de fadas”. As palavras de C. S. Lewis permanecem certeiras mesmo com a implacável passagem dos anos.

E é por essa consciência, que assistir a “Gato de Botas 2: O Último Pedido” (Puss in Boots: The Last Wish), nova animação da DreamWorks, torna-se uma experiência tão bacana para espectadores de qualquer idade.

O carismático protagonista Gato de Botas (voz de Antonio Banderas no original e Alexandre Moreno na versão brasileira) está de volta às telonas, após 12 anos. A trama nos mostra o que aconteceu nesse intervalo, resumindo suas aventuras – nem sempre com finais felizes, o que significa que, ao longo dos anos, ele perdeu não apenas batalhas, mas algo muito mais importante: suas vidas, propriamente ditas.

Segundo um curioso dito popular (quem dera fosse verdadeira), gatos têm nove vidas – sete, no Brasil – e a produção dirigida por Joel Crawford leva isso ao pé da letra, ao mostrar o intrépido felino em franca contagem regressiva para o fim, após oito reveses – em sua maioria, resultados da imprudência de quem sabe que tem várias outras chances.

Temendo por sua – agora única – vida, o Gato aposenta as botas, o chapéu, a capa e a espada e procura abrigo em uma casa onde vive uma mulher de bom coração, mas que é uma acumuladora de animais. Lá, ele terá que aprender a levar uma rotina segura (e sem graça) em grupo, com as restrições necessárias para não se colocar em nenhum tipo de risco, até o fim de seus dias.

Triste, não? Mas essa não seria uma história do “herói mais destemido” (grave essa expressão, pois é quase certo de que sairá cantarolando tais palavras ao término da sessão), se as coisas se resolvessem de maneira tão fácil e deprimente.

O refúgio para gatos abandonados também é o cenário no qual conheceremos um dos personagens mais carismáticos do universo no qual a animação está inserida. Perrito (Harvey Guillén / Marcos Veras) é um adorável cãozinho cuja bondade e otimismo são inversamente proporcionais ao seu  tamanho. Pequenino e frágil, ele não hesitará em ajudar seu novo melhor amigo a conquistar o tal último pedido do título.

Para isso, partirão em busca da Estrela dos Desejos, única que poderá reverter o quadro e devolver as vidas perdidas ao Gato. A empreitada ganhará o reforço de Kitty Pata-Mansa (Salma Hayek / Miriam Ficher), que também anseia pela realização de seu próprio desejo e será uma adversária à altura, com uma história prévia muito pertinente.

Ainda há a participação de outros “concorrentes”: Cachinhos Dourados (Florence Pugh / Giovanna Ewbank) – numa versão bem menos dócil do que a da fábula; os Três Ursos – que se tornaram uma espécie de “família do crime”; e Pequeno João Trombeta (John Mulaney / Bernardo Legrand) – detentor de uma coleção repleta de artefatos que surgem como ótimos easter-eggs para quem gosta de contos infantis clássicos.

E se o caminho até a Estrela não parece fácil, ainda dá para complicar mais com a aparição do sempre temido Grande Lobo Mau (Wagner Moura / Sérgio Moreno), em uma versão “Caçador de Recompensas”, que se mostra um perigo muito maior do que imaginado em um primeiro momento.

Visualmente impecável, “Gato de Botas 2: O Último Pedido” é surpreendente em todos os sentidos. Embora a narrativa escrita por Tommy Swerdlow e Tom Wheeler seja simples, ela é brilhante e consegue conquistar o público desde o princípio, fazendo com que o brilho nos olhos gerado pela franquia “Shrek” (na qual o felino apareceu pela primeira vez – em 2004 – antes de ganhar seu primeiro filme solo, em 2011) volte com força total.

Indicado com justiça na categoria de Melhor Animação do Globo de Ouro, o longa prova que ainda há muito que se contar. Os pedidos que ficam são para que este seja apenas o começo de uma retomada que tem tudo para ser incrível e que uma nova aventura chegue em uma data que não esteja tão, tão distante.

Para fechar, fica o lembrete de que a produção tem uma empolgante cena adicional.

Imperdível.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Universal Pictures.

Filed in: Cinema

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