Levar para as telas a realidade familiar dos dias atuais parece desafiador, se levar em conta que os supostos padrões de famílias foram totalmente desconstruídos com o passar do tempo. Ter pais separados, vem se tornando cada vez mais comum e, em “O Sonho de uma Família” (Magari) não é diferente.
O longa dirigido pela italiana Ginevra Elkann apresenta um modelo disfuncional de família, de maneira orgânica e poética, onde é possível sentir o peso de uma realidade latente nos dias de hoje. Conta história de três irmãos, filhos de pais separados, tendo como ponto de partida, o olhar das crianças para com a situação.
A ousadia da diretora estreante está justamente neste aspecto: quando ela abre mão de velhos conceitos e baseia o enredo da história no ponto de vista dos filhos, para dar mais dinâmica ao longa-metragem.
A caçula, Alma (Oro de Commarque) sofre com a separação dos pais. Apesar de muito nova, ela carrega um olhar profundo e com muitos sentimentos, tentando de forma sutil fazer com que os pais reatem a relação. O irmão do meio, Jean (Ettore Giustiniani) passa pela adolescência, de modo que às vezes ele aparenta ser um garoto complexo que, nem mesmo sabe quem é.
Seb (Milo Roussel), o mais velho, parece não ligar muito para a composição de sua família. No auge de sua juventude, ele apenas se preocupa em viver suas paixões com toda adrenalina possível.
Embora cada um traga um traço específico em sua personalidade, os três se mostram muito unidos – Seb em alguns momentos demonstra um carinho paterno pelos irmãos, o que provoca certa comoção em alguns momentos.
Pode se dizer que “O Sonho de uma Família” é um misto de realidade com futurismo, no qual jovens e adultos transmutam sentimentos volúveis o tempo todo, sem saber como agir ou se expressar muitas vezes.
O roteiro de Chiara Barzini e Ginevra Elkann passa do drama para a complexidade e se faz muito autêntico de maneira atemporal, abordando aspectos relevantes do passado e que, muito provavelmente, farão parte do futuro.
O cenário italiano agregou de forma positiva em todas as cenas, mostrando belas paisagens do país europeu, o que remeteu à poesia em meio às situações pela qual os personagens passam. Outro ponto positivo para a produção foi a trilha sonora de Ricardo Sinigallia, cantor italiano, responsável por dar vida e ritmo aos momentos felizes do filme.
Uma produção leve e tocante ao mesmo tempo, com traços sutis uma realidade difícil, porém, inevitável, enfrentada por diversas famílias nos dias de hoje. Vale ressaltar que, o longa foge dos padrões dramáticos, trazendo consigo uma dose genial de ousadia e inspiração. Em 104 minutos de duração, é possível sorrir e se emocionar várias vezes, na mesma proporção.
Vale muito a pena conferir essa história que está disponível na plataforma Cinema Virtual.
por Pompeu Filho – especial para A Toupeira
*Longa assistido via streaming, a convite da Elite Filmes.